domingo, 7 de setembro de 2008

Qual é a razão de sua existência?




"A esta pergunta,não damos com palavras,como se assim pudessemos discursa-la,mas acima de tudo a respondemos com a vida".

(Paráfrase minha)


Alex Paiva

sábado, 6 de setembro de 2008

Um café em meio a caminhada-As implicações da graça sobre a vida.



Nesta tarde de sábado,encontrei-me com o meu amigo e irmão em Cristo,Leandro,para um coffe break que há muito haviamos planejado.Mas como tudo na vida tem o seu momento e toda a singularidade do dia chamado HOJE,enfim,nos encontramos para uma comunhão,apreciando um bom café.
Embora,o tumulto do local,podemos alí compartilhar aquilo que maior temos discernido em nossa caminhada no evangelho de Jesus.
dialogando acerca da graça,e do nosso caminho no chão da existência,abordamos o assunto com bastante profundidade,considerando as suas implicações para a vida cristã.
Particularmente creio na subversão do reino,como um movimento revolucionário que demanda de cada discípulo o radicalismo proposto pela mensagem da graça, aquilo que fielmente acredito ser a boa nova de Deus em Cristo,todavia,concordamos também que para a grande maioria tal chamado é quase que inviável,Sendo a graça loucura para o mundo e também escândalo para a religião.
Bem,por mais que o nosso encontro tenha sido muito breve,sei que tudo o que nós discutimos,não apenas ficará sobre a mesa daquela inusitada cafeteria do centro da cidade,mas,acima de tudo,caminharemos na vida,sob esta ótica,trazendo em si o fruto desta consciência adquirida e renovada.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Qual é a prova da ressurreição?


A ciência humana determina que uma grande alegação tem de apresentar uma grande comprovação.

Assim, por tal critério, qualquer que seja a manifestação “do extraordinário”, pelas categorias cientificas, precisa se fazer provada por meio de fotos, vídeos ou evidencia de material físico; do contrário, se dirá que o testemunho humano simples e comum, não oferece corpo de evidencia e de credibilidade necessários à determinação de um fato extraordinário.

Ora, a ressurreição de Jesus foi o fato extraordinário mais extraordinário de toda a história humana. No entanto, dela não há qualquer comprovação pelo critério cientifico de verificação do inusitado.

Jesus, no entanto, nunca esteve preocupado em provar nada. Não só não oferece corpo de evidencia material, como também ainda escolhe como testemunhas as pessoas mais improváveis de que recebessem crédito como avalistas de algo tão para além do possível.

Ora, para corroborar e dar credibilidade ao milagre da ressurreição, Jesus determinou que os discípulos se amassem e buscassem viver em unidade que fosse significada pelo testemunho do amor com o qual amassem uns aos outros ante a percepção do mundo.

Somente a prática do amor pode validar a ressurreição; posto que grandes alegações demandam grandes provas; e, por isto, o amor é o único testemunho que o milagre da ressurreição pode ter.

“Amem-se e o mundo crerá em mim”, disse Jesus.

Portanto, o que Jesus ensinou em João 17 quanto a tal aspecto da experiência dos discípulos no mundo, dando testemunho de Seu nome, é simples:

Se os discípulos se amam, a ressurreição aconteceu; porém, se os discípulos não se amam, é porque não houve ressurreição para eles; pois o mundo só crerá na ressurreição se vir o amor ser praticado entre os homens que confessam Jesus; visto que somente o milagre do amor, em um mundo de ódio e indiferença, é o que dá testemunho acerca da “alegação” da ressurreição como milagre.

Assim, a prática do amor entre os irmãos e entre os humanos que confessam o nome de Jesus, é a única apologia possível do milagre da ressurreição.


Caio

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Gondim confessa mágoas e reafirma sua fé no Evangelho


"Tenho magoa de quem me chamou de Herege"


Fim de culto na Betesda. A igreja ocupa um imenso galpão na zona sul de São Paulo. Ricardo Gondim chama um dos pastores para fazer a oração final e deixa a plataforma a passos rápidos enquanto a congregação está de olhos fechados. No entanto, em vez da saída à francesa, ele opta pela “versão Ceará”, postando-se à porta do templo para cumprimentar as pessoas. Tudo como manda o mais autêntico figurino presbiteriano. Posa para fotos, autografa livros e distribui sorrisos e abraços para aos que se comprimem à sua volta.Para desapontamento de inúmeros desafetos, o escritor e pastor parece revestido de uma espécie de couraça contra os rótulos que lhe são atirados com freqüência. “Arrogante”, “herege”, “polêmico” e “mundano” são apenas alguns, digamos, publicáveis. Após receber muitos protestos sobre as supostas heresias defendidas por seu articulista, a revista evangélica Ultimato se pronunciou no ano passado (edição 308) usando dois adjetivos sobre os textos de Gondim: “Apreciados” e “saudáveis”. Um rápido exame nas dezenas de textos de seu visitadíssimo site já é suficiente para identificar algumas preferências pouco (ou nada) ortodoxas para um líder pentecostal. De Vinicius de Moraes a Lenine, a lista para lá de eclética inclui nomes como Almodóvar, Rubem Alves e Simone Weil. Com o fôlego de quem correu onze maratonas e dezesseis vezes a São Silvestre, Gondim revela que a corrida funciona como espécie de exorcismo para ele e para os amigos que o acompanham. “Após vários quilômetros percorridos, costumamos dizer que suamos vários demônios”, graceja. Ao receber CRISTIANISMO HOJE, cercado de livros numa filial da Livraria Cultura – templo-mor das letras na capital paulista –, Ricardo Gondim olhou na janela para o prédio da TV Globo e perguntou se Kixapágua (entidade que atua por trás da Vênus Platinada, segundo o apóstolo da Igreja Renascer, Estevam Hernandes) não iria atrapalhar o papo. Das risadas iniciais à emoção ao tocar em dores ainda sensíveis, o pastor falou sobre muitas coisas, inclusive de suas mágoas.


CRISTIANISMO HOJE – Agora em maio, duas grandes catástrofes – o ciclone em Mianmar e o terremoto na China – assustaram o mundo e novamente levaram os crentes a pensar sobre as razões do sofrimento humano. Como o senhor, que na época do tsunami ocorrido na mesma Ásia em 2004 causou polêmica com um artigo sobre as tragédias, analisa a questão do sofrimento humano diante da existência de um Deus que se apresenta ao homem como pleno de amor?


RICARDO GONDIM – Discordo da explicação fundamentalista de que “todas as tragédias são provocadas pelo pecado original”. É um simplismo cruel e inútil. Como escrevi inúmeras vezes, não consigo acreditar numa divindade que tudo ordena e orquestra. Em Os irmãos Karamazov, de Dostoievski, Ivan diz num certo momento: “Há uma coisa no Universo que clama: o choro de uma criança”. O Deus da Bíblia não é sádico de provocar a morte de milhares de vidas. Exatamente pelo fato de Deus ser amor, ele possibilita a felicidade e a infelicidade. Nossas escolhas, decisões e articulações sociais interferem nos resultados. Ao mesmo tempo, a vida é trágica e feliz. Deus é sempre parceiro do homem nessa busca de tornar a vida mais intensa e prazerosa. Como afirma André Comte-Sponville, “somos os únicos seres do Universo que podem humanizar ou desumanizar”.


Na época do tsunami, teólogos se insurgiram contra alguns de seus textos, desfiando uma série de argumentos. Hoje, o senhor é mestrando em ciências da religião na Universidade Metodista. É importante estudar teologia?


Depende de como você entende a teologia. Deus não pode ser dissecado. Como disse Paul Tillich, “Deus está além de Deus”. Entendo teologia como o estudo e a maneira como organizamos nossa vida a partir da compreensão que temos de Deus, ou, lembrando Rudolf Otto, do nosso “encontro com o sagrado”.


Mesmo entre as pessoas que não professam nenhuma religião, a sucessão de fatos trágicos e de episódios de crueldade humana explícita, como o assassinato da menina Isabella Nardoni, sugerem que algo muito grave e de contornos ainda indefinidos esteja acontecendo. O atual recrudescimento da brutalidade humana aponta a proximidade dos eventos escatológicos bíblicos ou são apenas novas expressões de um quadro que sempre houve?


Todos esses fatos recentes são apenas expressões de algo que sempre aconteceu. Repare que, ao longo da história, foram comuns perseguições contra judeus, hereges, escravos... A própria Reforma Protestante foi um episódio violento. Em Casa grande & senzala, Gilberto Freyre discorre sobre o que algumas senhoras faziam por ciúme da beleza das escravas. Quebravam-lhe os dentes com chutes ou mandavam-lhes cortar os peitos. De certa maneira, creio que o que aumentou foi o nível de intolerância social à brutalidade – por isso a comoção e a revolta provocadas por esses episódios.


Quando foi a última vez que o senhor chorou?


Na semana passada, durante reportagem na TV sobre o terremoto da China. Depois de quatro dias, conseguiram resgatar uma criança com vida. Um pai tentou invadir a ambulância ao imaginar que era seu filho. Chorei ao ver o desespero daquele homem.


Quais são as principais diferenças entre o Ricardo Gondim de hoje e aquele que começou o ministério há três décadas?


Eu era um homem com um idealismo ingênuo. Não sabia diferenciar ilusão e encantamento. Ilusão é baseada em fantasias; já o encantamento nasce da observação da realidade. Continuo encantado com o Evangelho, com “E” maiúsculo.


Então, quem é Ricardo Gondim?


Um homem introspectivo e nostálgico. Gosto de ambientes intimistas e tenho profunda necessidade de estabelecer relacionamentos significativos, sem trocas ou quaisquer tipos de interesses.Nos últimos cinco anos, o senhor tem se notabilizado como um crítico do segmento evangélico.


Iniciativas como o blog Outro Deus e a maciça produção de textos nesta linha têm marcado seu ministério. Até que ponto isto se confronta ou complementa sua atuação pastoral?


Comecei a escrever pelo fascínio da própria literatura, cuja excelência intrínseca é maior que a da oralidade. Esse exercício adensa pensamentos e complementa idéias que surgiram nas mensagens. Todas as semanas posto textos inéditos e meu site recebe cerca de 1.400 visitantes por dia e mais de 1,5 mil e-mails por mês.


Em seus pronunciamentos recentes, o senhor revela a vontade de afastar-se de tudo e chega a sugerir que as pessoas não compareçam sequer aos eventos que promove. No entanto, o senhor continua participando e promovendo eventos destinados ao público evangélico e permanece na direção da Betesda – uma igreja com corte social de classe média urbana, presença na mídia e atuação institucionalizada, como tantas outras denominações cuja existência legitimam suas críticas. Não é um paradoxo?


É preciso definir os acampamentos. Há um movimento evangélico que mostra ter exaurido as forças. Alguns sinais dessa exaustão são a falência ética e as campanhas constantes para trazer pessoas à igreja. Para mim, agenda cheia demonstra fraqueza. Para fidelizar o público, há gente buscando atrações cada vez mais fantásticas. No caso da Betesda, é explícita a posição de não repetir modelos falidos e teologias engessadas da década de quarenta. O que faço hoje são eventos voltados para a própria igreja. Recentemente, decidi suspender o Congresso de Reflexão e Espiritualidade, voltado basicamente para pastores, que acontece há vários anos. E não compactuo com nenhum messianismo do tipo “impactar a nação por meio de eventos”.


Falar de gigantismo e inchaço da Igreja brasileira tornou-se atitude recorrente nos últimos 20 anos, período no qual a população evangélica do país quase triplicou. Quais são, na sua opinião, os efeitos de tal avanço?


Existem premissas equivocadas na tradição evangélica e na práxis desta Igreja?Alguns efeitos são perigosíssimos. A Igreja passou a ser vista como outra força, entrando na disputa de poder. O crescimento acentuado enfraqueceu o zelo pelo conteúdo da mensagem. Isso promoveu sentimentos de ufanismo e triunfalismo desmedidos. Mas não ocorreu avivamento. O que aconteceu foi uma confluência de fatores sociológicos que explicam o crescimento do rebanho. Não é necessário enfatizar princípios espirituais para explicar o aumento do número de evangélicos.


O movimento da Igreja emergente, que tem ganhado força nos EUA, começa a influenciar lideranças no Brasil. Qual é o seu posicionamento acerca dele?


Depois de muitos anos de crescimento do fundamentalismo, nomes como Brian McLaren, Rob Bell e o próprio Phillip Yancey representam um certo ar fresco na ambiência evangélica dos Estados Unidos. Ainda assim, vejo o movimento como algo norte-americano, sem diálogo com outras tradições cristãs ao redor do mundo.


A dinâmica dos grupos pequenos cresce no contexto do Evangelho urbano. Eles vão representar necessariamente a extinção das grandes igrejas?


O futuro mais lúcido da Igreja Evangélica está nos pequenos grupos. As instituições não vão acabar; porém, não serão solo fértil para as grandes inovações. Enquanto as grandes igrejas repetem clichês, pessoas reunidas em grupos menores vão experimentar o enriquecimento da alma.


Quais foram os motivos da recente divisão ocorrida na Igreja Betesda, cujo núcleo em Fortaleza, no Ceará, desligou-se da sede em São Paulo?


Não houve desligamento de São Paulo. O que aconteceu foi uma divisão dentro da Betesda de Fortaleza. Um grupo alegou que minhas propostas teológicas eram “incompatíveis”. No entanto, na realidade tratava-se apenas de disputa interna de poder. Na época, a igreja perdeu alguns líderes e cerca de 40% dos membros.


Igrejas pentecostais como a Assembléia de Deus, à qual o senhor foi ligado, foram durante muito tempo estigmatizadas devido ao perfil de sua membresia, prioritariamente formada por pessoas dos estratos sociais mais populares. De acordo com sua observação, essa visão ainda persiste?


Um dos fenômenos comprovados em relação aos pentecostais foi a ascensão social do segmento. Obviamente, isso trouxe benefícios e problemas. A produção teológica e literária é um fator positivo. Por outro lado, muitas pessoas passaram a se comportar como os demais estratos da população, supervalorizando o status e outros sinais de riqueza. Daí para a teologia da prosperidade pregada pelos neopentecostais a distância foi curta.“


Ao tentar transformar-se em ciência, a teologia só conseguiu produzir uma caricatura do discurso racional, porque essas verdades não se prestam à demonstração científica.” As palavras são de Karen Armstrong, autora do livro Em nome de Deus – O fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo. Qual a face mais aguda do fundamentalismo no Cristianismo de hoje?


O fundamentalismo confunde fé com aceitação de conceitos doutrinários. Seus defensores acreditam numa verdade que pode ser totalmente abraçada a partir de certas lógicas. Crêem chegar a uma verdade plena, fechando-se ao diálogo.


Quem são, hoje, as lideranças e pensadores que influenciam sua atuação ministerial?


Além da ala “emergente” (Bell, McLaren), tenho lido autores católicos latino-americanos, como Juan Luis Segundo. Gosto bastante também das obras do espanhol Andrés Torres Queiruga, além de teólogos judeus como Jonathan Sacks e Abraham Heschel.


Ideologicamente, como o senhor se define?


Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados.


O senhor é um autor bastante apreciado pelos crentes brasileiros. Qual sua opinião sobre a literatura evangélica em nosso país?


A produção literária evangélica é deficiente. A razão é o freio dogmático que gera pessoas mais preocupadas com a defesa da fé do que em produzir literatura.


Quais os autores que mais o influenciam?


Entre vários escritores que fazem parte da minha vida, posso citar José Lins do Rego, Machado de Assis, Thomas Mann e Victor Hugo. O clássico Os miseráveis é uma das minhas obras favoritas.


Lançado em 1998, É proibido (Mundo Cristão) é um de seus livros mais vendidos. Dez anos depois dele, o que a Bíblia permite e a Igreja ainda proíbe?


A Igreja brasileira ainda não soube, por exemplo, lidar com a questão do álcool. Os conceitos lembrados remetem à Lei Seca dos Estados Unidos. Portugal já resolveu essa questão de forma equilibrada há muito tempo e ninguém fica escandalizado ao ver um cristão tomar vinho.


E a relação do povo evangélico com a arte, por exemplo?


É esquizofrênica e mal-resolvida. Dicotomizaram as manifestações artísticas em “sacra” e “profana” – mas não fazemos essa mesma distinção na hora de ler um texto. Em resultado disso, os cristãos sofrem empobrecimento generalizado na hora de saborear e desfrutar da vida. As expressões mais belas de uma geração estão em sua produção artística.


No ano passado, a Editora Ultimato publicou Eu creio, mas tenho dúvidas, obra que traz vários de seus artigos. Quais são suas principais dúvidas e inquietações?


Reflito com freqüência sobre a banalidade da vida. Basicamente, essas reflexões são ressonâncias do livro de Eclesiastes: nem sempre o justo prevalece, nem sempre o forte vence, nem sempre a vida faz sentido...


Em mensagem pregada recentemente, o senhor afirmou que às vezes lhe vêm à mente pessoas que o machucaram, e confessou ter mágoa de algumas delas. Como é esse sentimento?


Tenho mágoa de pessoas que lidaram comigo a partir de rótulos e preconceitos. Tenho mágoa de pessoas que foram intelectualmente desonestas comigo, tentando desconstruir meus textos sem sequer ler as referências. Tenho mágoa de pessoas que me chamaram de “herege” e “apóstata”, uma verdadeira perversidade de gente que não conhecia toda a extensão das questões em debate.


Fonte:Cristianismo hoje

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Quais são as alternativas da humanidade?


Se eu não tivesse a fé que tenho, e apenas olhasse o mundo como ele é e com as configurações de cenários que apresenta, qual seria a minha esperança?


Sim! Quais seriam minhas alternativas de esperança?


Não creio que os humanos irão privilegiar o cenário global ao cenário imediato e tópico. Assim, estaremos sempre discutindo o “modo de nossa morte”, e jamais nossa salvação no planeta.


Não creio que haja tempo para salvar a humanidade, mesmo que todos, agora, a uma, nos mobilizássemos para lidar com as questões conceituais e estruturais ligados à nossa auto-extinção.


Não creio que os dogmas religiosos, nacionalistas, étnicos e morais, jamais darão lugar ao Dogma do Amor que tem o poder de preservar a vida humana na Terra e com ela a própria Terra.


Não creio que o amor à humanidade será jamais maior do que a disposição de morrer pela amargura das calamidades provocadas pelo ódio no passado dos povos.
Não creio que haja qualquer força no coração da humanidade que seja hoje maior do que a vontade emulada pelas preocupações deste mundo e pelo poder que o dinheiro dá.


Não creio que a humanidade seja capaz de pensar no bem de todos, abrindo mão de privilégios momentâneos e caprichosos, e, assim, criar as circunstancias para a sobrevivência global.


Portanto, sem Jesus eu sou um ser de alma apocalíptica em minhas avaliações. Ou seja: somente a esperança em Jesus me dá um Apocalipse para além dos apocalipses da humanidade.


Sem Jesus, para mim, o mundo far-se-á mal até o fim. A alternativa é o desenvolvimento de aparatos de fuga para as estrelas. Entretanto, mesmo assim, iríamos fazer guerra em outros mundos, mas ainda assim guerras, pois, somos habitados pelo poder da guerra.


Com Jesus, vejo a humanidade se fazendo mal, sempre mal, mas não o fará até o fim-fim. O fim da humanidade, o fim do mundo, ou qualquer que seja a designação escolhida para tal catástrofe — não será fim-fim se o que Jesus disse é verdade. Pois se é verdade, haverá novo céu e nova terra, nos quais habita justiça. Porém, se Ele não é Ele, mas apenas um “ele” qualquer, então, a humanidade está perdida, e o que sobra é a orgia dos vampiros e o baile dos zumbis — até a última hora.


Quais são suas esperanças para a humanidade?


Eu só tenho uma!


Sem ela eu morreria antes da morte chegar!


Nele, que é minha vida e esperança,

Caio

sábado, 19 de julho de 2008

“Mereça! Faça por merecer esse sacrifício!”


Depoimento de Valmir Bodruc - Estação Santos

Esse Domingo,no Caminho em Santos foi diferente.

O Marcelo havia anunciado na semana anterior que teríamos exibição de trechos de filmes na reunião.

O que vai sair disso? Isso vai dar certo? Como as pessoas vão entender, posto que será uma programação bem diferente da “costumeira?” – pensava eu.

Lá estávamos nós. O Marcelo, então, avisou: “não vou pregar, mas somente explicar o contexto do primeiro filme que é...“ E daí começou a falar da história de “O Resgate do Soldado Ryan” e talvez nem se deu conta que, após discorrer sobre o contexto do filme, passou a falar da Graça de Deus de modo muito simples, figurado e consistente.

Explicou sobre a tendência de pensarmos que a Graça simplesmente se limitou até o dia da nossa conversão e dali para frente “é comigo mesmo...”, e, iniciamos então uma nova vida, de tentativas de santidade por conta própria, e dessa maldita justiça própria, que serve somente para achatar a vida da pessoa que tenta dela se valer.

Ficou bem claro que na Graça, fomos totalmente libertos, perdoados e resgatados, quer seja do passado, presente ou futuro.

O Resgate do Soldado Ryan

No filme, o Soldado Ryan, ao ser salvo pelos companheiros de batalha, para ser devolvido para a vida cotidiana normal fora do ambiente da guerra, recebeu como “instrução-conselho-mandamento” de vida que deveria “MERECER E FAZER POR MERECER” o sacrifício da vida de outros soldados para enviá-lo para casa com vida. “Mereça, mereça, faça por merecer!” - dizia o capitão (Tom Hanks) ao soldado Ryan (Matt Damon) pouco antes de morrer. E Ryan tentou viver para cumprir isso.

Deve, no entanto, ter vivido uma vida desgraçada, em se considerando a insegurança dele ao final na sua velhice, quando em visita ao túmulo do capitão. “Diga que fui um homem bom! Diga!” – implorou para a esposa. Foi salvo, mas a culpa morou com ele a vida toda. Foi resgatado, mas a culpa foi o pano de fundo de toda sua vida de “salvo”, porque, no fundo, ele sabia que não conseguia atingir tal objetivo de MERECER E FAZER POR MERECER, pois sendo humano, falhava em ser bom, como é natural.


A paixão de Cristo


O filme foi projetado a partir da cena da cruz, onde Jesus Cristo crucificado diz: “ESTÁ CONSUMADO”, e assim dizendo significava que havia cumprido tudo, por todos nós que não merecemos, e por isso todos estamos justificados por Ele do passado, presente e futuro, afinal, está pago! Voltamos à cena da cruz uma segunda vez, agora o filme segue sem áudio, e o Marcelo dublando Jesus na cruz, e substituiu o “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” por outra fala que fica assim: “Mereçam, mereçam, façam por merecer”. Ficou uma desgraça! Não a produção do Marcelo (rs), mas sim a história da humanidade na versão da Justiça Própria.

Que triste! A Justiça Própria é tão presunçosa que, tal como ilustrado, é como se ela colocasse na boca de Jesus essa expressão que exige a paga pelo sacrifício que Ele fez.

Creio que o Marcelo conseguiu deixar bem claro que: somos chamados a crer no que foi consumado, pelo fato de que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, tirando de cima de todo ser humano os seus pecados, e que amar a Deus em gratidão é que nos leva a não gostar de pecar, mesmo que continuemos sendo pecado, mas, estamos livres desse tal pecado que nos escravizava.


O nosso resgate pela paixão de Cristo


Não merecemos, nem conseguiremos fazer por merecer, por isso mesmo Ele se deu por nós, morrendo nossa morte para vivermos sua vida.

Como o Marcelo disse: "Arrepender-se é entender e confessar que não mereço a Graça! Dou razão a Deus! - E crer na Graça é dizer: Muito obrigado pelo teu perdão, estou justificado!

Na mesma Graça, pela qual fui resgatado, sem merecer, para nela prosseguir em amor e gratidão.





quinta-feira, 17 de julho de 2008

O que é conversão para você hoje?


CONVERSÃO é não ter mais absolutamente nenhum outro ponto de vista que não venha do Evangelho.

CONVERSÃO é não ter nenhum outro ponto de partida que não parta do Evangelho.

CONVERSÃO é não ter nenhum outro ponto de chão para caminhar que não seja o chão do Evangelho.

CONVERSÃO é não almejar nenhum outro ponto de chegada que não seja no Evangelho.

CONVERSÃO é estar impregnado do Evangelho dando razão a Deus todo dia, num processo que pode ter começado um dia, mas não terminará jamais, porque só terminará no dia em que transformados de glória em glória nós nos tornarmos conforme a semelhança de Jesus.

CONVERSÃO é renovar a mente todo dia.

CONVERSÃO é ler este século e não nos conformarmos com ele.

CONVERSÃO é ver mundo no mundo, e ver mundo no que se chama Igreja.

CONVERSÃO é chamar de mundo não o ambiente fora das paredes eclesiásticas, e chamar de Igreja o ambiente dentro das paredes eclesiásticas.

CONVERSÃO é saber que mundo é um espírito, um pensamento, uma atitude que pode estar em qualquer lugar, e está freqüentemente nos concílios de um modo muito mais sofisticado do que está nos congressos políticos explicitamente definidores de políticas pro mundo.

CONVERSÃO é manter a mente num estado de arrependimento constante, de metanóia, de mudança de mente, que por vezes acontece com dor outras vezes só pela consciência que vai abraçando o entendimento e vai dando razão a Deus, e vai dando razão a Deus, e vai dando razão a Deus, e vai dizendo: Deus tem razão, a Palavra tem razão - e se ela tem razão eu quero conformar a minha vida conforme a verdade do Evangelho.

Caio Fábio
(editado da entrevista concedida em Fevereiro de 2007 em São Paulo)

sábado, 5 de julho de 2008

Uma história de amor






Conheça a história emocionante de um pai que nunca desistiu de lutar pela felicidade do filho.


No meio de tantos atletas, um homem tem uma missão maior. Seu filho quer participar, e ele vai atender o desejo do filho. A essa altura, você deve estar cheio de perguntas, tentando entender e até acreditar nesta história. Esta é a história de um pai que nunca desistiu de lutar pela felicidade do filho.

Rick é o mais velho dos três filhos de Dick Hoyt. Durante o parto, o cordão umbilical se enrolou no pescoço. Faltou oxigenação no cérebro, provocando danos irreversíveis. Rick não pode falar ou controlar os movimentos de seus braços e pernas. Parecia condenado.

“Os médicos disseram: ‘Livre-se dele. É melhor interná-lo. Ele vai ser um vegetal o resto da vida’. Nós choramos, mas decidimos tratá-lo como uma criança normal. Ele é o centro das atenções e está sempre incluído em tudo”, conta Dick Hoyt.

Rick sempre teve amor, mas ninguém sabia até que ponto ele conseguia absorver e entender o que se passava a sua volta. A escola achava que ele não tinha capacidade de aprender. Os médicos também.

“Mas aí nós pedimos para os médicos contarem uma piada, e Rick caiu na gargalhada. Eles, então, disseram que talvez haja algo aí dentro”, lembra Dick Hoyt.

Cientistas desenvolveram um sistema de comunicação para Rick. Com o movimento lateral da cabeça, o único que consegue controlar, ele poderia escolher letras que passavam pela tela e, assim, lentamente, escrever palavras.

“Ele tinha 12 anos, e todo mundo estava apostando quais seriam as primeiras palavras da vida dele. Seriam ‘Oi, pai!' ou 'Oi, mãe!’?. Que nada! Ele disse: ‘Go, Bruins’, uma frase de incentivo ao Boston Bruins, time de hóquei”, conta Dick Hoyt

Rick participava de tudo. E foi assim que surgiu a idéia de correr.

“Um colega da escola sofreu acidente e ficou paralítico. Foi organizada uma corrida para arrecadar dinheiro para o tratamento. E Rick, através do computador, pediu: ‘Eu tenho que fazer algo por ele. Tenho que mostrar para ele que a vida continua, mesmo que ele esteja paralisado. Eu quero participar da corrida’”, lembra Dick Hoyt. "Eu tinha 40 anos e não era um atleta. Corria três vezes por semana, uns dois quilômetros, só para tentar manter o peso. Nós largamos no meio da galera, e todo mundo achou que a gente só ia até a primeira curva e ia voltar. Mas nós fizemos a prova inteirinha, chegando quase em último, mas não em último. Ao cruzarmos a linha de chegada, Rick tinha o maior sorriso que você já viu. E quando chegamos em casa, ele me disse, através do computador: ‘Pai, durante a corrida, eu sinto como se minha deficiência desaparecesse’. Ele se chamou de 'pássaro livre', porque então estava livre para correr e competir com todo mundo”.

Que pai não faria todo o esforço para levar tamanha felicidade a um filho? Dick começou a treinar, e eles resolveram participar de outras provas. Mas a recepção não foi boa.

“Ninguém falava com a gente, ninguém nos queria na corrida. Famílias de outros deficientes me escreviam e estavam com raiva de mim. Perguntavam: 'O que você está fazendo? Procurando a glória pra você?'. O que eles não sabiam é que Rick é que me empurrava para todas as corridas”, conta Dick Hoyt.

E contra todos, eles foram em frente. Um ano depois, participaram da primeira maratona. Cinco anos mais tarde, veio a idéia do triatlo. Mas, para fazer triatlo com seu filho, Dick Hoyt tinha uma série de problemas para resolver.

Primeiro: equipamento. Não existia nada parecido no mercado. Todo o material de competição teve que ser desenvolvido. E a cada competição, Dick Hoyt tinha que chegar mais cedo para montar tudo.

Mas Dick Hoyt tinha um problema muito maior a resolver para poder fazer triatlo com o filho. Uma coisinha básica: ele não sabia nadar. Mudou-se para uma casa à beira de um lago e foi.

“Nunca vou esquecer o primeiro dia. Eu me joguei no lago e adivinha: afundei. Mas todo dia eu chegava do trabalho e tentava ir um pouquinho mais longe”, conta Dick Hoyt.

Entre o primeiro dia no lago e o primeiro triatlo, foram apenas nove meses. A questão da natação estava resolvida, mas Dick Hoyt ainda tinha mais uma dificuldade pela frente: já fazia um certo tempo que ele não montava numa bicicleta – desde os 6 anos de idade.

O ciclismo é a parte mais difícil para os Hoyt. A bicicleta deles é quase seis vezes mais pesada que a dos outros, sem contar o peso de Rick. Na subida, isso fica claro.

“Ninguém me ensinou a nadar, a pedalar ou a correr como um atleta. Nós simplesmente fizemos. Do nosso jeito”, comenta Dick Hoyt.

Do jeito deles, pai e filho enfrentaram os mais incríveis desafios. O mais impressionante: o Iron Man, no Havaí, o mais duro dos triatlos. São 3,8 mil metros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e uma maratona inteira no fim: 42,195 quilômetros de corrida em mais de 13 horas de um esforço sobre-humano.

Dick e Rick venceram a desconfiança. Hoje são queridos onde chegam. Recebem incentivos dos outros competidores a todo instante e até agradecimentos.

“Vocês são incríveis. Obrigada”, diz uma triatleta.

Um rapaz diz que resolveu fazer triatlo por causa deles: "Hoje foi minha primeira corrida e eu gostaria de agradecê-los por serem minha inspiração”.

“É de emocionar, porque você começa a refletir o que tem feito da sua vida”, comenta uma mulher.

“É a parte mais fenomenal do triatlo. É incrível o que esse homem faz com seu filho”, elogia outra mulher.

“Ele é um grande homem. Ele tem coração, é um bom homem”, ressalta um atleta.

Desde 1980, foram seis edições de Iron Man, 66 maratonas e competições de diversos tipos. Pai e filho completaram 975 provas juntos. Jamais abandonaram uma sequer e nunca chegaram em último lugar. Eles têm orgulho de dizer: “Chegamos perto do último, mas nunca em último”. Sempre com o mesmo final apoteótico: público comovido, braços abertos e aquele mesmo sorriso enorme na linha de chegada.

Atualmente, Rick tem 46 anos. Com o movimento da cabeça, escreve no computador frases que serão faladas por um sintetizador de voz. É um homem bem-humorado. “As pessoas, às vezes, ficam olhando para mim. Eu espero que seja porque eu estou muito bonito”, brinca.

Rick formou-se em educação especial na Universidade de Boston. “Não dá para descrever a felicidade no dia da formatura. Foi minha maior realização. Eu mostrei para as pessoas que elas não têm que sentar e esperar a vida passar”, comenta.

Hoje ele não mora mais com o pai. Mora sozinho, com a ajuda de pessoas contratadas para dar assistência. E se você fica dois minutos com Rick, jamais vai esquecer o seu sorriso.

“Ele é muito, muito, muito feliz. Provavelmente, mais feliz do que 95% da população”, afirma o pai, Dick Hoyt, que escreveu um livro e criou uma fundação para ajudar outras pessoas com paralisia cerebral. Hoje o superpai tem 68 anos e impressiona pelo vigor que continua apresentando.

Aos 52, empurrando Rick, conseguiu o incrível tempo de 2h40m na Maratona de Boston, pouco mais de meia hora acima do recorde mundial. Marca excelente para um amador, sensacional para uma pessoa dessa idade e inacreditável para quem corre empurrando uma cadeira de rodas.

“Já me disseram para competir sozinho, mas eu não faço nada sozinho. Nós começamos como um time e é assim que vai ser. O que importa para mim é estar aqui e competindo ao lado do Rick”, afirma Dick Hoyt.

Por isso, eles se chamam “Team Hoyt” – o time Hoyt, a equipe Hoyt. Pai e filho, inseparáveis. Richard Eugene Hoyt e Richard Eugene Hoyt Junior: uma mensagem viva para o mundo.

“Nossa mensagem é: 'Sim, você pode'. Não há, no nosso vocabulário, a palavra ‘impossível’. Esse é o nosso lema. E nós continuaremos com ele até o fim”, garante Dick Hoyt.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Caminho,como"modus vivendi"


O que será,que o Senhor tinha em mente quando disse aos seus discípulos que permanecessem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder?


O que sei é que Jesus esperava que tudo quanto Ele havia dito antes acerca de como se deveria proceder,de cidade em cidade,fosse agora vivído como uma ação contínua,num fluxo ininterrupto,num vai e vem constante,e como um poder que nunca tivesse um trono,nem uma cidade santa,nem um vaticano.


O que os cristãos precisam saber é que Jesus não era cristão,e que nem tampouco quis Ele fundar o cristianismo,nem mesmo teve interesse em algo que se assemelhasse à civilização cristã,conforme nós a conhecemos de 332 de nossa era até hoje.


Jesus criou o caminho na fé na graça e no amor de Deus,o que deveria ser algo livre como o vento,e vivo e móvel como a água,algo muito,mais muito longe de uma proposta religiosa.


Tudo o que Jesus queria era que os discípulos continuassem discípulos,e que os apóstolos fossem os servos de todos;sem haver nem alguém maior,e muito menos,um lugar mais santo ou um centro de poder.


Jesus esperava que o poder do Espírito os fizessem sair em desassombro pelo mundo,pregando a palavra da boa nova,ensinando singelamente os discípulos a serem de Jesus em suas próprias casas e culturas.Desse modo,se teria sempre um movimento hebreu,crescente,progressivo,livre,guiado pelo Espírito,e complemente semelhante ao que eles haviam vivido com Jesus durante o Caminho,naqueles três anos de estrada que construíram o Evangelho ao ar livre,nas praias da Galiléia,nos desertos da Judéia,nas passagens por Sámaria,nas terras de Decápolis,e nos confins da terra.


Alguém,com razão,diria que tal projeto não seria possível,visto que ninguém consegui viver sem um centro de poder.Entretanto,parece que ainda não se discerniu que o convite de Jesus é contrário de toda lógica de poder,e não propõe nada que não seja o HOJE,e que não obriga ninguém a pavimentar o futuro de Deus na terra mediante a construção de alguma coisa duradoura.


Para Jesus,o duradouro era aquilo que justamente não se poderia pegar,nem fixar,nem pontuar,nem ser objeto de visitas turísticas,dada a sua impermanência num chão marcado pelas urinas dos mandões.Ele esperava que os discípulos fossem como o mestre,e aqueles anos de Caminho não ficassem cristalizados nas páginas dos registros dos evangelhos,mas que se tornassem um modo de ser de seus discípulos.


O poder dos discípulos,parodoxalmente,está em não ter poder.E o convite para que se morra a fim de que se tenha vida,é também válido para a igreja,que-ao contrário do discípulo-quer mandar na vida e controlar os homens e o mundo.Assim,pretendendo salvar a sua vida neste mundo,a igreja não só perde a sua própria vida,mas deixa de ganhar o mundo.


O que Jesus queria era uma multidão de seres-sal-e-luz se espalhando pela terra,e se diluindo em sabores e luzes,que só seriam sentidas,mas jamais se tornando uma salina ou uma usina de luz cristã,a serem visitadas pelos curiosos.


O reino é como o fermento escondido...Até que pervade toda a massa da humanidade...E sem ninguém saber como...E sem que ninguém possa dar mais glória a mais ninguém,senão ao Pai que está nos céus.


Aliás, a proposta de Jesus é tão extraordinária,que a vontade de aparecer não pode resisti-la.O sal,por exemplo,foi usado por Jesus como metáfora desse 'desaparecimento'da igreja na terra.Tudo o ao que Ele associa a metáfora do sal é o sabor,e nada mais.O sal tem que ter sabor,se não,já não presta para nada.E para que o sal salgue e dê sabor,de fato,ele tem que se dissolver nos elementos que recebem o seu benefício.O sal só salga quando morre como sal visível e se torna apenas gosto,presença,tempero,realidade e benefício,embora ninguém possa dizer onde ele está,podendo apenas dizer:ele está na panela.Mas onde?


Já a luz do mundo-vós sois!-,deveria ser a ação continua da bondade e da misericórdia,de modo discreto,porém pleno de efetividade;de tal modo que os "de fora",que ao receberem os benefícios da luz,podem discerni-la como boas obras,e assim,eles mesmos,agradeçam a Deus pelos filhos da misericórdia que Ele espalhou pela terra.


O que Jesus propõe como simplicidade,entretanto,logo deu lugar às complexidades regimentais e aos centros de poder.Mesmo dizendo "tal não é entre vós"-referindo-se ao poder de governar dos reis e autoridades-,o que se criou desde bem logo,foi justamente aquilo que era comum,não o que era completamente incomum.


Na realidade,quem entendeu o Evangelho e o seu significado,sabe que o Cristianismo se tornou a pervesão da proposta de Cristo,transformando o Evangelho puro e simples,em uma religião,com dogmas,doutrinas,usos,costumes,tradições com poder de imutabilidade e muita barganha com os homens,em franca e pagã manipulação do nome de Deus.


No Cristianismo,Deus tem seus representantes fixos e certos na terra-o clero,seja ele Católico ou Protestante-,tem suas doutrinas e dogmas escritos por concílios de homens patrocinados por reis,e tem na sabedoria deste mundo,seu instrumento de elaboração de Deus:A teologia


Desse modo,no Cristianismo,Deus não passa de uma "potestade religiosa"de um poder mantido pelos homens,posto que se crê,que sem o Cristianismo,Deus está perdido no mundo.


O mundo conheceu o Cristianismo,mas não teve muita chance de conhecer o Evangelho,conforme Jesus e as dinâmicas livres e libertadoras do Caminho,de acordo com as narrativas dos evangelhos,nas quais o único convite que existe,é "seguir" a Jesus.


O Brasil,por exemplo,está cheio de Cristianismo,e,paradoxalmente morto do Evangelho.


Fonte:O caminho da graça para todos,Caio Fábio,Fonte editorial

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O templo só construível no coração



Ler Ezequiel do capitulo 40 ao 43; João 7: 37 a 39; e Ezequiel 47, do verso 1 em diante.



A imagem que nos é oferecida pelo profeta Ezequiel acerca de um templo que cresce para dentro de si mesmo me toca o coração de modo profundo e quase inigualável (
O TEMPLO QUE CRESCE PARA DENTRO).

A descrição é como segue:

Entra-se em algo semelhante a uma caixa pequena, e, dentro dela, tudo começa a crescer; ganhando medidas cada vez maiores internamente (uma construção só passível de ser construída teoricamente pelo homem se pudéssemos construir para dentro; e isto com instrumentos de natureza quântica) — e em cujo templo existe um Altar do qual procedem as Águas Vivas, as quais são vertidas do interior do Templo que cresce para dentro, e que saindo do Altar escorrem pelas portas do Templo (o qual é situado em sua impossibilidade humana de construção em Jerusalém); e em seguida descem entre a cidade e o Monte das Oliveiras; sempre descaindo conforme o declive; indo assim pelo Vale do Cedrom, pela ladeira longa que corta o deserto da Judéia; continuamente serpenteando entre abismos, até chegar em Jericó e por fim ao Mar Morto; sendo que por onde quer que passe tal derrame de águas vivas, tudo reverdece, cresce, torna-se frutífero, gerando oásis e lugares regados e viçosos; e por último convertendo o Mar Morto num lugar cheio de peixes e de vida.

Muitas coisas me comovem nas imagens dadas por Deus ao profeta Ezequiel acerca do verdadeiro Templo de Deus e do poder de vida que dele emana.

Alguém pergunta: Com o quê você se comove?

Ora, minha resposta é simples:

Comovo-me ante a impossibilidade humana de realizar tal construção. Isto porque para mim seria medíocre e estranhamente inamável se tal Templo fosse um prédio. Entretanto, ao vermos que as medidas dadas na Bíblia em côvados começam erguendo algo pequeno e que vai crescendo de modo impossível para dentro de si mesmo, acabam com todos os messianismos exteriores (como o fanatismo de se construir um templo em Jerusalém a fim de “cumprir a profecia” pela força da iniciativa humana).

Do mesmo modo essa revelação de como tal Templo é em sua natureza divina destrói toda presunção humana de dar qualquer que seja “a mãozinha a Deus”; ou ainda de ensoberbecer-se com exterioridades; pois, sendo a construção como é (impossível ao homem), o que sobra para nós é apenas o privilégio de entrar em tal Templo em Cristo Jesus, para então tornarmo-nos nós mesmos templos conforme o Templo - Jesus; e, desse modo, passando nós a derramar a mesma Graça que nos fez beber e ser inundados pelas águas do Altar-Espírito de Jesus.

Além disso, emociono-me com aquilo que acima acabei de afirmar de passagem; ou seja: que a dimensão Essencial de tal profecia tem apenas a ver com Jesus; ficando – entretanto – o privilegio para homem de tornar-se semelhante ao Templo que em Jesus ganhou sua concreção histórico-existencial. Assim, antes de ser um templo gerado pelo Templo, eu era apenas parte do cenário de fissuras, falhas, abismos, desertos e morte. Sim, eu era a coisa morta e parte de tudo o que estava morrendo. No entanto, quando as águas vivas me tocaram e depois me cobriram como águas de um afogamento na salvação plena, então, entrei no Templo Impossível aos homens, para então eu mesmo penetrá-lo até ao fundo, vendo que minhas experiências do lado de dentro vão dando vida aos meus cenários do lado de fora, posto que o ideal divino é que minha história humana em Deus e com os demais homens, seja equivalente em qualidade ao aprofundamento de minhas percepções na viagem para o interior de Deus (em Jesus) pelo Espírito.

Jesus era tão “impressionado” com as imagens de Ezequiel que as usou de modo chocante e teatral. De fato Jesus usou tais figuras com a intenção de afirmar a entrada de Deus no homem a fim de gerar a entrada do homem em Deus, produzindo o resultado da cura crescente do homem ao mesmo tempo em que faz do curado um ente curador. Na realidade Jesus usou um momento de rito simbólico dos sacerdotes do templo de Jerusalém (nos dias de Jesus era o Templo de Herodes, o Grande) com o propósito de ensinar vividamente o significado de crer Nele. O sacerdote apanhava um cântaro de ouro e descia em procissão até ao poço de Siloé, tomava água, e subia ao templo, onde derramava as águas na esquina do altar e citava a profecia de Ezequiel.

Foi neste ponto do teatro que Jesus interferiu e disse:


“Ora, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.”



Ora, foi por esta razão que Jesus ilustrou a fé Nele mesmo como algo que tinha nas imagens profético-simbólicos do profeta Ezequiel seu cumprimento.

Assim fazendo Ele nos deixou “ver” a forma de uma construção não desta possibilidade dimensional a fim de facilitar nosso entendimento do que seja a vontade de Deus quanto ao Bem que o Evangelho e o Espírito do Deus vivente podem operar em nós.

Também é interessante que dentro do templo haja anjos e palmeiras; e que dele procedam as águas que geram cura. Anjos e palmeiras significam o equilíbrio da verdadeira espiritualidade, que combina natureza (palmeiras) com celestialidade (anjos).

Desse modo à medida que alguém entra no Templo Impossível (Jesus) pela fé (crer), mais verá do lado de fora o surgimento concreto daquilo que internamente já faz parte de seu próprio cenário espiritual.

Ora, Jesus é este Templo para que nós possamos ser segundo o seu modelo.

Assim, quando ouço a Palavra e nela creio, bebo das águas vivas que procedem do Altar do Espírito, e vou sendo invadido e afogado pela Graça em todas as áreas de meu ser, atingindo até a minha dimensão mais intima e inatingível (Mar Morto). Entretanto, isto mesmo é equivalente a entrar no Templo - Jesus e conhecer o Seu Interior a fim de que nosso próprio interior se torne semelhante Àquele no qual adentramos pela fé.

Desse modo, quando entro no Templo não feito por mãos humanas, vou me tornando semelhante a Ele mesmo; sendo que o final do processo é que a partir de mim as mesmas águas de derramam pelo mundo, até ao “Mar Morto”.

O Quadro de Ezequiel (o Templo, o Altar, as águas, as curas e milagres que vão correspondendo ao meu mergulho e entrada no Templo e nas águas) é feito das imagens mais lindas, e por meio delas eu entendo a beleza do que me está sendo oferecido gratuitamente em Jesus.

Nele,



Caio

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A simplicidade profunda e esmagadora de Jesus



A cada dia mais me impressiona a simplicidade de Jesus em relação a tudo.

Ele negou-se a tratar de quase tudo o que a filosofia e a teologia tratam com avidez.

A origem do mal Ele simplesmente desprezou em qualquer que seja a explicação “metafísica”. Simplesmente disse que o mal existe. E o tratou com realidade óbvia.

O problema da dor foi por Ele tratado com as mãos, não com palavras e discursos.

As desigualdades sociais foram todas reconhecidas, mas não se o vê armando qualquer ação popular contra elas.

Seus protestos eram todos ligados à perversão do coração, mas nunca se tornavam projeto político, ou passeatas, ou bandeiras.

A “queda” não é objeto de nenhuma especulação da parte Dele. Bastava a todos ver as conseqüências dela.

Sobre a morte sua resposta foi a paz e a vida eterna.

Jamais tentou justificar o Pai de nada. Apenas disse que Ele é bom e justo.

Mandou lutar contra os poderes da hipocrisia e do desamor, mas não deu nenhuma garantia de que se os venceria na Terra.

Sua grande resposta à catástrofe humana foi a promessa de Sua vinda, e nada mais.

Nunca pediu que se estabelecesse o Reino de Deus fora do homem, mas sempre dentro dele; pois, fora, o reino, por hora, era do príncipe deste mundo.

Não buscou ninguém com poder a fim de ajudar qualquer coisa em Sua missão.

Adulto, foi ao templo apenas para pregar aquilo que acabaria com o significado do templo como lugar de culto.

Fez da vida o sagrado, e de todo homem um altar no qual Deus é servido em amor.

Chamou o dinheiro de “deus”, mas se serviu dele como simples meio.

Pagou impostos; mas nunca cobrou nada de ninguém, exceto amor ao próximo.

A morte para Ele não era mesma coisa que é para nós. Morrer não era mal. Viver mal é que era mau.

Em Seus ensinos Ele sempre parte do que existe como realidade e nega-se fazer qualquer viagem para aquém do dia de hoje.

Para Ele o mundo se explicava pelas ações dos homens, e prescindia de analises; pois, tudo era mais que óbvio.

Não teologizou sobre nada. E todas as Suas respostas aos escribas e teólogos eram feitas de questões sobre a vida e seu significado agora; e sempre relacionado ao que se tem que ser e fazer.

Quando indagado de onde vinha o “joio”, Ele simplesmente diz: “Um inimigo fez isso...” — referindo-se ao diabo.

Prega a Palavra, e não tenta controla-la.

Vê pessoas crerem, mas não tem nenhuma fixação em fazê-las suas seguidoras físicas e geográficas.

Não tem pressa, embora saiba que o mundo precisa conhecer Sua Palavra.

Cita as Escrituras sem nenhuma preocupação com autores, contextos ou momentos históricos.

Arranca certezas da Palavra baseadas em um verbo “ser” — aludindo ao fato de Deus ser Deus de vivos e não de mortos, pois, “para ele todos vivem”.

Ensina que a morte é o fundamento da vida, e tira dela o poder de matar, dando a ela a força das sementes que ao morrerem dão muito fruto.

E assim Ele vai...

E assim Nele é!


Nele, para Quem a filosofia é a vida em amor,


Caio

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Jesus,salve-nos do jesus de nossa conveniência!


Amigos queridos prestem atenção, por favor:

Ou JESUS se torna logo QUEM Ele é em nós, por nós e para nós;Ou Ele será cada vez mais O QUE a gente inventar acerca dele.Porque o nosso "Deus" a gente inventa pra se distrair!
E a gente já inventou cada coisa feia, que não beira nem a uma caricatura Dele! - basta folhear as narrativas dos evangelhos que flagraram DEUS CONOSCO e testemunharam "o Ser igual a Deus... aparecendo em figura humana", Deus em "plena forma", no ápice da Sua revelação acerca de Si mesmo, mostrando a cara... Deus "adulto", Deus completo, inteiro, definitivo, Deus todo, Deus de frente, Deus em carne, Deus à imagem e semelhança de Deus! - O Evangelho!

Entretanto, a Religião Cristã tem um "Deus" a sua imagem e semelhança!Um "Criador" criado conforme a expressa imagem de seus fabricantes!

Sim, é um "Deus" tão grande tão grande que é do tamanho das nossas ambições, egoísmos, "podres poderes" e oportunismos, juízos, preconceitos, desejos e rivalidades. Daí, "Ele" não ser Ele, sendo somente um mito, uma lenda, um avalista, um fiador, um holograma, uma grife, uma marca-de-marca, um pacote, um kit, um mix, uma fórmula, um método, um amuleto e a evocação de um ente supostamente maior que nós e que nossas ações, mas que não passa de um REFLEXO.

Jesus não usa nossos lábios, são nossos lábios que o usam o tempo todo.Se Jesus falasse por nossa língua, então uma pequena fagulha de Amor incendiaria o Bosque do Mundo!Mas a quem chamamos "Jesus", podíamos sinceramente chamar VENTRE!Ele seria mais autêntico se o nomeassem MAMOM! Se nosso "Deus" fosse sincero, chamar-se-ia Legião, "porque são muitos"!

- Nosso "Deus" tem dupla personalidade: Às vezes tem uma paciência de Jó, outras vezes fica tão mal humorado que só não destrói o mundo para não dar trabalho!Esse "Jesus" já ordenou cruzadas, extorquiu viúvas e órfãos, bandeirou conquistas colonizadoras, massacrou judeus, adestrou indígenas e desalmou negros, queimou "infiéis" e amaldiçoou rivais.No presente tempo, Ele é só professor de Educação Moral e Cívica, na melhor das hipóteses...

No mais, o "Jesus" desse século é o gênio de uma lâmpada mágica que a gente esfrega, esfrega, esfrega até que ele realize nossas vontades e nos dê "só saúde e sorte", além - obviamente - de carros e celulares!"Ah, Jesus! E não te esqueças da África, hein!"Por isso, em minha geração, eu só tenho uma oração:"Jesus, salve-nos do jesus da nossa conveniência!"Salva-nos do "Jesus" dos púlpitos-balcão, do "Jesus-produto" para consumo imediato, do "Jesus" que autografa as bugigangas dos "vendilhões do templo", que assina as insanas encíclicas e que respalda toda verborragia cristã, o blá-blá-blá-em-nome-de-Jesus!!!

Salva-nos de um "Nome" que não tem qualquer paralelo com a Pessoa que O encarnou.Se a gente seguisse Jesus (qual?) de Nazaré mesmo...

O filho de Maria e Pai da Eternidade;

O Deus Forte, jovem carpinteiro;

O Príncipe da Paz, coroado de espinhos;

O Santo Galileu, o Mestre ajoelhado;

O Todo-Poderoso Filho do Homem;

O Servo Senhor dos Senhores,O Deus Eterno e crucificado;

O "Deus-Morto" ressuscitado...

Então, a Terra conheceria o gosto do Sal.

E como vagalumes, Seus discípulos iluminariam a Noite Espiritual, enquanto vagam pela existência!Ah! Se a gente seguisse Jesus...Ao invés de ganhar o mundo, amaríamos o próximo!



Marcelo Quintela

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sonho com dias diferentes...





Sonho com dias diferentes...


Dias em que,cada frame de segundo seja intenso e especial.


Que o amor,nos seja como o ar, sem ele,impossível de respirar.


Sonho com dias,em que a nossa única bandeira,seja à do perdão


do partir do pão,e da comunhão.


Que a tolerância entre os povos seja o termo essêncial.


Que a única religião,seja a da disposição,da entrega,da horizontalidade.


Que o mundo rico,lembre dos pobres.


E que a "fome zero",saia da teoria, e caia na prática de seus idealizadores.


Sonho com dias,em que,a cura,crie raizes,brote do chão,e que em suas árvores


dêem sombra e frutos, oferecendo abrigo e antídotos,para as infermidades dos homens.


Sonho com dias,em que todo o sonho para o bem da humanidade,seja realizável.


E que o reino da utopia se estabeleça.


trazendo de volta a esperança,no coração,daqueles que sinceramente o buscam em verdade.






Alex Paiva

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O fruto do evangelho é vida e paz

Uma síntese do evangelho,pregada por Caio Fábio,na estação do caminho da graça em Brasília.

Alex Paiva



sábado, 24 de maio de 2008

Causa homossexual X justiça de Deus-Um Prelúdio à parada gay



Neste domingo próximo,dia 25 de maio ocorre em São Paulo,na avenida paulista,um evento muito aguardado por militantes gays e simpatizantes: A"parada gay".


Todavia,este evento,consegue cutucar as entranhas preconceituosas fundamentalistas, de religiosos,dito cristãos,que não exercem de misericórdia e amor,mas,sim,com ódio,com muito ódio, por ferirem suas conciências formatadas pela idéia de um Deus pagão,furioso e vingativo que delega-os à uma "guerra santa", contra o mundo,e da implantação de seus padrões tiranos,ainda que seja necessário matar.


Alex Paiva


SOBRE A CAUSA HOMOSSEXUAL, A JUSTIÇA DE DEUS E AS BANDEIRAS DA IGREJA


I


"Sobre a vida que não vivi;


Sobre a morte que não morri;


Sobre a morte de outro, a vida de outro,


Minha alma arrisco eternamente.


" O inferno para qual mandam os homossexuais é o mesmo no qual habitarão todos os chamados "injustos", conforme I Coríntios 6 .
Sim, "não herdarão o Reino": os impuros (sabe aquele pessoal que se contamina com tudo que sai de dentro de si mesmo?), os adoradores de outros deuses (sejam os que adoram as figuras do panteão católico ou hindu, sejam os que idolatram Mamom - deus da mais "afortunada" teologia evangélica), os adúlteros (aqueles que mesmo "ao olharem para uma mulher com intenção impura no coração já adulteraram com ela"), além dos que roubam – os trapaceiros e oportunistas, dos que maldizem despudoradamente, dos que se embriagam e se entregam aos excessos, dos que cobiçam e não repartem (melhor escrever assim, porque o termo 'avarento' ninguém admite, ninguém o é, até porque a avareza também cega a percepção de quem só vê o umbigo...), e claro, puxando a fila, os gays, lésbicas e simpatizantes! – numa verdadeira marcha rumo à justa condenação!
O que a "Apologia Homocentrada" não percebe é que essa relação de Paulo contém os "tipos existenciais" presentes na sociedade de Corinto.


Hoje, muito provavelmente, o escritor inspirado incluiria pedófilos e corruptos – execrados contemporâneos - no mesmo time de praticantes da injustiça contra a alma humana e contra a criação divina.


Sim, os coríntios são maquetes das doenças dos homens.
São arquétipos da Queda, eles são a escalação da nossa feiúra.
São símbolos de tudo que existe dentro de nós, ao menos em potencial.
E a igreja de Corinto é uma representação do que acontece com a experiência comunitária quando o direito ao juízo se arvora como bandeira vergonhosa, quando o senso de justiça produz personalidades melindradas e relações litigiosas entre irmãos intolerantes, que para se proteger do dano sofrido o devolvem num toma-lá-da-cá que só vai aumentando.
Quando o juízo triunfa, a beligerância cresce, para desapontamento do apóstolo (Leia como Paulo introduz o assunto dos "injustos sem herança" desde o primeiro verso desse capítulo seis e você entenderá tudo, se quiser).
Esses tais que o apóstolo descreve e adverte com tiradas irônicas são os mesmos que ele chama de "injustos", segundo o polêmico texto (Texto eleito como um dos estandartes fundamentalistas contra o ativismo gay, mas que podia muito bem também servir para puxar o coro contra o individualismo pós-moderno, por exemplo, pois os não-generosos estão no mesmo barco paulino rumo à perdição!).
Bom... Tais in-justos... os não-justos... ficarão de fora junto com "os cães, feiticeiros, os adúlteros, os assassinos" e todo esse pessoal da pesada, conforme acrescenta o Apocalipse .
Injustos – segundo o espírito do Evangelho de Paulo - são todos os que não foram justificados, pois justo MESMO ninguém é... Não há UM sequer! Não é? Os injustos são os que foram convidados para a Festa, mas não quiseram ir. São também representados pelo convidado que foi, mas não se vestiu da Justiça do Anfitrião - achando que se bancava na "carteirada"! Injusto, é quem não volta justificado para sua casa, mesmo depois da oração-currículo-comparação (Lucas 18. 9-14). Injusto é esse cara que dá graças a Deus de "não ser como este outro!"

II - A Condenação Preventiva

Meus irmãos, não está claro que o versículo selecionado como uma base legal para o julgamento antecipado do mérito homossexual é o mesmo que nos condena a todos - a não ser que TODOS se encontrem "lavados... santificados... e justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus"? – conforme o mesmo texto?
Não sabem que todos pecaram e todos estão carentes até que estejam sob cobertura do Sangue Daquele que tira o pecado do mundo? Não percebem que ninguém foi aprovado? Não percebem que somos todos nós listados ali?
Amigos, eu não estou atenuando pecados, ao contrário, estou expondo-os:
Homossexuais precisam parar com essa viadagem como eu preciso parar de mentir, de enrolar, de brigar pelo poder, de idolatrar a grana, de tirar do outro o que é dele ou cobiçar-lhe a mulher gostosa!
É simples: Quem "olhou" para uma mulher é merecedor do mesmo inferno que aqueles que se deitaram com um homem!

Você não vê que o que Paulo está dizendo é que todos nós estamos fora até que Alguém nos ponha para dentro? Daí os injustos não herdarem o Reino; pois "ninguém será justificado diante Dele" (Rm 3:20) com justiça própria. E quem não é por Ele justificado, morrerá em seus pecados.
Do ponto de vista do Evangelho, portanto, os justos não são justos, eles são ímpios agora justificados. São ramos enxertados, são filhos adotados, são ovelhas de outro pasto, são salvos pelo "gongo": "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso!!!"
Mas quem pode agüentar o escândalo de Amor que se vislumbra nos encontros humanos com um Salvador que justifica ímpios, embora não recompense hipócritas??? Que "filho mais velho" há de suportar as "injustas" parábolas da Graça sem espernear, já que a "felicidade" dele depende da não-aceitação do outro no mesmo seio paterno, pois ele só se concebe justo e merecedor do amor e da herança visto "nunca ter transgredido um só dos mandamentos!"
Segundo o filho fundamentalista, felicidade maior do que ir para o céu, e ir sem que "esse outro teu filho" vá! Em paralelo, os "justos" da religião gozam com a condenação dos "ímpios" que gozaram com a vida enquanto os primeiros se reprimiam!

III - A conversão de Sodoma Sim, mas nas narrativas dos evangelhos tais "ímpios" salvos se arrependeram, irmão Marcelo? - alguém dirá. É verdade! A questão não é essa.

A questão é: Como se arrependeram? Qual a jornada rumo ao arrependimento empreendida por publicanos, meretrizes e pecadores que O cercavam? Faça um exercício de mínima acuidade textual...
Volta lá e procura uma única narrativa na qual eles se arrependeram antes de terem sido amados, antes de terem sido alvejados pelo Amor Incondicional do Deus Encarnado, antes de terem sido por Ele acolhidos, reconciliados, chamados e servidos! Sim, mostre um único texto onde Ele não nos amou primeiro!
Mostre um! "Eu não me arrependo para ser perdoado, eu me arrependo porque fui perdoado!" O arrependimento só se faz possível porque há perdão disponível! Isso é claro como a luz do sol, mas quem pode olhar para ele? Quem, em "sã" consciência religiosa, pode suportar tal "heresia"?
É por isso que as próximas manifestações do Amor de Deus na Terra serão clandestinas à igreja que O representa! O Evangelho crescerá à margem porque a igreja provou-se excessivamente "justa": Quando chama, ameaça; quando recebe, segrega; quando converte, clona; e quando santifica, infla o indivíduo de si próprio!
Daí cruzarem os mares para fazer um prosélito e o tornarem duas vezes mais merecedor do inferno; pois agora ao pecado comportamental juntou-se o cinismo e a hipocrisia religiosa! Dessa forma, percebo com pesar que aqueles que mandam descer fogo do céu sobre os homossexuais não sabem de que espírito são! O Filho do Homem veio salvar, ainda. Veio buscar a mim e a eles, visto sermos todos iguais.
Os segredos dos corações dos homens ainda não foram revelados e a História ainda não acabou; contudo a "igreja" impôs-se a incumbência de passar o restante dela julgando preventivamente, querendo administrar o caos, nominar-se trigo, classificar o joio, organizar a Queda.
Sinceramente, penso que a cristandade segue aperfeiçoando sua "herança romano-puritana" de domar genitálias alheias, como quem circuncida gentios para apresentá-los diante da Santa igreja em Jerusalém, a fim de torná-los palatáveis dentro de nossas Sinagogas Cristãs... Mas Deus não precisa da igreja.
Aleluia! Deus não é doido!
O fator Melquisedeque está em operação: zaqueus, levis, madalenas, pedros, ladrões e até nicodemos da vida,são atraídos pelo Perdão que dá herança nos Céus e não pela ameaça do fogo do Inferno.
Jesus não faz a Pedagogia do Terror! E toda vez que se aproxima dela e na direção do pessoal da "carteirada" ou é para dizer que haverá menor juízo para sodomitas do que para as cidades abrâmicas que testemunharam o amor de Deus e não se curvaram sobre Seus pés e nem O lavaram com lágrimas! Porque se aqueles des-graçados de Gomorra tivessem tido a experiência da Dádiva desmedida em Jesus, há muito já teriam se convertido!!!!
Então, saibam todos: milagres serão realizados em Sodoma, sinais acontecerão em Gomorra! E então virá o fim! Aí muitos e muitos e muitos virão do Ocidente e do Oriente e sentar-se-ão à Mesa com Abraão, Isaque e Jacó!!!

IV - Nossa Bandeira também tem muitas cores!

E se eu e você quisermos participar desse derramamento do Espírito sobre toda carne, é melhor mudar o coração; e ao contrário de sair em defesa de Deus por que não sair às ruas com Deus?
Proponho o fim de toda bandeira cristã!
Alguém já disse que aqueles que estão crucificados não têm mãos disponíveis para levantar bandeiras! Não temos bandeiras a não ser o Evangelho! Nossa bandeira é a Reconciliação.
Esse é nosso ministério, isto é, "Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens os seus pecados, e nos confiou a Palavra da Reconciliação. De modo que somos Embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse ao mundo...: Reconciliem-se comigo! [Isso é possível, porque]... Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós, para que Nele fôssemos feitos justiça de Deus!"

Quem entendeu, entendeu; quem não entendeu, distorça tudo! "... o Seu estandarte sobre mim é o amor!" Cantares 2.4

V - A Embaixada da Reconciliação e a Utopia do Evangelho

Sugiro mudar a pauta, então. Mudar o tom. Mudar o discurso. Abaixar as mãos. Todos fomos flagrados em falta! Sugiro, então, o abraço ao diferente, a amor ao "torto", o acolhimento do equivocado, a inclusão da turba marginalizada em quase dois mil anos de uma igreja preocupada em fazer justiça.
Nem a gente se agüenta mais... Vamos virar a página! Sugiro que os mais des-graçados sejam os mais abraçados! Sugiro que larguemos as pedras da intolerância e a linguagem da ufania! Sugiro que pitbulls da severidade e poodles raivosos abandonem a arena... Sugiro que o ranger dos dentes ativistas dê lugar a um simples sorriso de paz! Sugiro que ao corpo se dê um pouco mais de alma! Sugiro a Calma.
Sugiro o final do juízo até que ele comece.
Suplico que os discípulos de Jesus sigam Jesus! E não per-sigam seus semelhantes tão distintamente semelhantes.
E amem o mundo até o limite do insuportável! E amem o mundo até o mundo odiar o amor! E amem o mundo até brilhar o SOL DA JUSTIÇA! - A "justiça" que vem pela fé no Filho de Deus! Arrisquem-se, pelo Amor de Deus! Vamos precisar de todo mundo! Amar não nos tornará cúmplices de ninguém e de nada! Deus é amor!

"(...) toda Terra se encherá da Glória do Senhor, como as águas cobrem o mar. Naquele dia, as nações perguntarão pela raiz de Jessé, posta por Estandarte dos Povos, e o lugar do seu repouso será glorioso!" Isaías 11.9-10

Marcelo Quintela

"A gente espera do mundo e o mundo espera de nós um pouco mais de paciência!"

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Uma abordagem biblico-histórica acerca dos dons de serviço,na igreja primitiva


A estrutura de liderança hierárquica que caracteriza a igreja Ocidental, deriva de uma mentalidade posicional. Esta maneira de pensar outorga autoridade em termos de espaços a alcançar, descrições objetivas de trabalho a realizar, títulos para exibir, e postos que fazem valer seus privilégios.

A maneira de pensar posicional revela um grande interesse por estruturas explícitas de liderança.Termos tais como "pastor", "ancião", "profeta", "bispo", etc, são títulos que representam ofícios eclesiásticos.Ou seja, um ofício é um espaço definido pelo grupo. Tem uma realidade alheia à pessoa que o ocupa.
Também possui uma realidade alheia às ações que a pessoa realiza nesse oficio.Por contraste, a noção de liderança do NT está arraigada em uma mentalidade funcional. Descreve a autoridade em termos de como as coisas operam organicamente. Ou seja, funcionam por meio da vida em Deus.

A liderança descrita no NT atribui um alto valor aos dons especiais, a maturidade espiritual e o serviço sacrificado de cada membro. Enfatiza as funções em vez dos ofícios, as tarefas em vez dos títulos.
Seu interesse principal está em atividades tais como pastore-ar, profetiz-ar, supervis-ar, etc. Em outras palavras, o pensamento posicional se apaixona pelos substantivos, enquanto que o pensamento funcional acentua os verbos.

Na ênfase posicional, a igreja deve modelar-se segundo as estruturas corporativas empresariais e militares de nossa cultura. Na ênfase funcional, a igreja opera por meio da vida.
O ministério mútuo surge de maneira natural. A estrutura e o ranking estão ausentes.É comum às igrejas orientadas pela tendência posicional/hierárquica a existência de uma maquinaria política que funciona de trás do cenário, que promove diversas pessoas a posições de poder eclesiástico.

Habitualmente nas igrejas orientadas funcionalmente se manifesta a responsabilidade mútua e a interação colegiada de seus membros. Escutam juntos ao Senhor e se afirmam mutuamente em dons que recebem do Espírito.Em suma, a orientação que o NT imprime à liderança é orgânica e funcional.
Por outro lado, a orientação da liderança posicional/oficial é fundamentalmente mundana. Existe uma afinidade natural entre a orientação posicional/hierárquica e o conceito de "cobertura protetora".

Jesus e a Idéia de Liderança Gentílica/Política

O ministério de Jesus com respeito à questão da autoridade,clarifica os temas fundamentais que estão por trás da moderna doutrina da "cobertura". Consideremos como o Senhor contrastava o modelo hierárquico de liderança do mundo gentílico com a liderança no reino de Deus.

Depois que Jacobo e João lhe pediram que lhes concedesse altas posições de poder e glória ao seu lado no Seu trono, Jesus os contestou dizendo,Vocês sabem que os governantes das nações AS DOMINAM, e as pessoas importantes EXERCEM PODER sobre elas. NÃO SERÁ ASSIM ENTRE VOCÊS; ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo, como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos. (Mat. 20:25-28)E mais uma vez,...Os reis das nações DOMINAM sobre elas, e os que EXERCEM AUTORIDADE sobre elas são chamados de benfeitores; MAS VOCÊS NÃO SERÃO ASSIM.

Ao contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. Pois quem é maior, o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como o que serve.(Luc. 22:25-27).A palavra grega traduzida por "exercem sua autoridade" em Mateus é katexousiazo que é uma combinação de duas palavras gregas: katá, que significa sobre, e exousiazo, que significa exercer autoridade.
O Senhor também utiliza nesta passagem a palavra grega katakurieuo que significa"controlar" ou "dominar" aos demais. O que Jesus condena nestas passagens não é apenas os líderes opressores como tais, mas a forma hierárquica de liderança que domina o mundo gentílico.

Isto merece ser repetido:

Jesus condenou não apenas os líderes tirânicos, condenou também a própria forma de liderança hierárquica!Qual é a forma hierárquica de liderança?

É o estilo de liderança fundado na idéia pobre de que o poder e a autoridade fluem de cima para baixo. Essêncialmente, está construída em uma estrutura social de cadeia de comando.A liderança hierárquica está baseada em um conceito mundano de poder.

Isto explica porque esta fórmula é comumente usada em todas as burocracias tradicionais. Está presente nas formas corruptas do feudalismo senhor/vassalo e amo/escravo. Também pode ser vista nas esferas altamente estilizadas e reguladas das sociedades militares e empresariais do primeiro mundo.

O estilo de liderança hierárquico, mesmo que não seja cruel, é prejudicial para o povo de Deus,porque reduz as relações humanas a associações estilo comando. Com isto quero dizer que as relações se ordenam na forma de uma estrutura militar do tipo cadeia de comando. Estas relações são alheiras à prática e ao pensamento do NT.

A liderança hierárquica está estabelecida em todas as esferas da cultura pagã. Lamentavelmente foi adotada pela maioria das igrejas cristãs de nossos dias.Resumindo o ensino de nosso Senhor acerca deste estilo de liderança, tornam-se evidentes estes marcantes contrastes.

No mundo gentílico, os líderes operam sobre a base de uma estrutura social política, tipo cadeia de comando - uma hierarquia. No reino de Deus, a liderança flui da mansidão e do serviço sacrificado.

No mundo gentílico, a autoridade está baseada na posição e no ranking. No reino de Deus, a autoridade está cimentada no caráter piedoso. Note a descrição que Cristo faz dos líderes:"será vosso escravo" e "seja... como o menor". Aos olhos do Senhor, ser precede ao fazer, e o fazersurge do ser. Em outras palavras, a função segue o caráter. Os que servem, fazem assim porque são servos.

No mundo gentílico, a grandeza se mede pela proeminência, pelo poder externo e pela influência política. No reino de Deus, a grandeza se mede pela humildade interna e pelo serviço externo.

No mundo gentílico os líderes se aproveitam de suas posições quando governam os demais. No reino de Deus os líderes rechaçam toda classe de reverência especial e vêem a si mesmos como"o menor".Em suma, as estruturas hierárquicas de liderança caracterizam o espírito dos gentios.

Portanto, a implantação destas estruturas entra em choque com o cristianismo do NT. Nosso Senhor não exitou quando declarou Seu implícito desprezo pela noção gentílica de liderança, porque claramente disse: "não será assim entre vocês".

Considerando tudo isso, no ensino de Cristo não há lugar para o modelo de liderança hierárquica que caracteriza a moderna igreja.

Jesus e o Modelo de Liderança Judaico/Religioso
Jesus também contrastou a liderança no reino com o modelo de liderança que caracteriza o mundo religioso.

No texto adiante, o Senhor expressa vividamente a perspectiva de Deus com respeito à autoridade, em contraste com o conceito judaico:Mas vocês não devem ser chamados 'rabis'; um só é o Mestre de vocês, E TODOS VOCÊS SÃO IRMÃOS. A NINGUÉM NA TERRA CHAMEM 'PAI', porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. TAMPOUCO VOCÊS DEVEM SER CHAMADOS 'CHEFES', porquanto vocês têm um só Chefe. O Cristo.

O maior entre vocês deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mat. 23:8-12).
O ensino de Cristo nesta passagem é o seguinte:

No clima religioso dos judeus existia um sistema de classes formado por religiosos, especialistas do tipo guru, e os não especialistas. No reino, todos são irmãos da mesma família.
No mundo judaico, aos líderes religiosos são outorgados títulos honoríficos (por exemplo,Chefes, Pai, Reverendo, Pastor, Sacerdote, Ministro, etc.). No reino não há distinções de protocolo. Estes títulos obscurecem o incomparável lugar de honra que corresponde a Jesus e empana a revelação do NT que contempla todos os cristãos como ministros e sacerdotes.

No mundo judaico, os líderes são elevados a posições de proeminência em uma posição de poder.No reino, os líderes encontram seu trabalho no parâmetro simples do serviço e na modesta convicção da humildade.

No mundo judaico, a liderança se fundamenta no status, nos títulos e na posição. No reino, a liderança está arraigada na vida interior e no caráter. (Nesse mesmo tom, a mania tão comum de outorgar "doutorados" honoris causa a um incontável número de clérigos,é apenas um exemplo de como a igreja moderna reflete aqueles valores de liderança que vão contra o reino de Deus).

Em suma, há um grande abismo entre a liderança segundo Jesus e o que vemos na maioria das modernas igrejas. O Senhor imprimiu um golpe de morte aos modelos de liderança gentílicos/hierárquicos e judaicos/posicionais.

Estes modelos que incham o ego são incompatíveis com a simplicidade da igreja primitiva e o reino de Jesus Cristo. Ambos sistemas impedem o progresso do povo de Deus, eliminam a funcionalidade do sacerdócio dos crentes, rompem a imagem da igreja como uma família, e põe severas limitações ao Governo de Cristo. Por estas razões "não será assim" entre os que levam o nome do Salvador.

Os Apóstolos e a Liderança Posicional/Hierárquica

Não há dúvidas de que nosso Senhor condenou as estruturas de liderança posicionais/hierárquicas.Mas, e quanto a Paulo e outros apóstolos?Contrariamente à idéia popular, as cartas do NT nunca falam dos líderes da igreja em termos de"ofícios" e outros convencionalismos da organização social humana. (Um pouco mais adiante trataremos com as várias passagens que alguns usam para respaldar os "ofícios" eclesiásticos).

Sempre que o NT descreve aqueles que são principalmente responsáveis pela supervisão espiritual, se refere ao trabalho que desempenham. Por esta razão, domina a linguagem funcional. Os verbos são proeminentes.Os episcopos [episkópois = palavra que descreve a pessoa com função pastoral] locais,são chamados anciãos e supervisores (Tito 1: 5-7). Isto se deve ao fato de que cumpriam com seu labor enquanto anciãos, atuando como modelos de maturidade para os menos maduros (1 Ped. 5.3). Também supervisavam - cuidavam do bem estar espiritual da igreja (1 Ped. 5:2).A tarefa dos anciãos também se descreve por meio da metáfora do "pastor" (Atos. 20:28; 1 Ped.5:1-4). Isto se deve ao fato de serem vigilantes, do mesmo modo que os pastores, em seu sentido literal,cuidam das ovelhas.

Por conseguinte, se igualamos os episcopos a um espaço sociológico (um ofício) corremos um considerável risco. Temos que restringir o termo "pastor" a seu significado essencial (alguém que se ocupa de ovelhas). Também devemos restringir o vocábulo "ancião" a seu significado básico (um homem idoso). Sem deixar de mencionar que é necessário fazer o mesmo com a palavra "provedor" (alguém que provê cuidado aos outros).

É importante levar em conta que todos os cristãos participam da liderança corporativa. Cada membro dirige quando exercita seu dom espiritual. Como está demonstrado em Repensando os Odres, a direção e a tomada de decisões pertence a toda igreja. A supervisão vem dos anciãos na medida em que surgem (e isto leva um tempo).O rol dos Anciãos/Supervisores.No idioma grego, ancião (presbíteros) simplesmente significa um homem idoso. Por conseguinte,um ancião é um santo maduro ou um irmão mais velho.

Os anciãos do NT, por conseguinte, eram simplesmente homens espiritualmente maduros -Cristãos exemplares que supervisionavam (não controlavam nem dirigiam) os assuntos da igreja local.Os anciãos não eram figuras decorativas da organização, pregadores assalariados, clérigos profissionais nem altos funcionários eclesiásticos. Simplesmente eram irmãos mais maduros (anciãos de fato) levando a cabo funções reais (pastor-eando, supervision-ando, etc.).

Seu labor principal era triplo: ser modelos de serviço na assembléia, motivar aos santos para as obras de serviço e modelar o desenvolvimento espiritual dos crentes mais jovens (1 Pe. 5:1-3). Os anciãos eram também os que lidavam com situações difíceis na igreja (Atos 15:6ss).Mas os anciãos nunca tomavam decisões pela igreja. Como descrevo em meu livro Repensando os Odres, o método do NT para a tomada de decisões não era ditatorial nem democrático, mas consensual e envolvia todos os irmãos e irmãs.Como vigilantes, os anciãos supervisionavam a obra dos demais (em vez de substituí-la). Oravam com os olhos abertos e tinham suas antenas espirituais constantemente erigidas para descobrir e enfrentar os lobos.

Como homens de mais idade, sua sabedoria era procurada em tempos de crise, e quando falavam, suas vozes tinham o peso da experiência.Dotados de um coração de pastor, os anciãos levavam continuamente as cargas da igreja.Ajudavam a guiar, proteger e alimentar os crentes mais jovens até que estes pudessem caminhar pelos próprios pés.Falando de maneira simples, os anciãos eram facilitadores espirituais que proporcionavam direção,abasteciam de alimento, e alentavam o compromisso entre os membros e a igreja. Ser ancião, portanto, é algo que alguém faz em vez de um espaço que alguém ocupa ou uma cadeira que alguém senta.

O NT confirma isto bem claramente; porque se Paulo e os outros apóstolos desejassem descrever os líderes da igreja como ocupantes de cargos oficiais, teriam a disposição numerosos termos gregos que poderiam ter utilizado para isso.

Portanto, é bem significativo que os seguintes termos gregos estejam ausentes do vocabulário eclesiástico dos apóstolos:

o Arjé (chefe, governante, oficial de tropa)o time (um oficial ou dignatário)o telos (o poder inerente de um governante)o arjisinágogos (oficial da sinagoga)o hazzan (líder da adoração pública)o taxis (posto, posição ou ranking)o hieratéia (oficio de um sacerdote)o arjón (governante ou principal).

O NT nunca emprega nenhuma destas palavras para descrever líderes na igreja. Como sucede com Cristo, a palavra favorita dos apóstolos para descrever líderes da igreja é diákonos -que significa servidor ou ajudante.A tendência de referir-se aos líderes-servos da igreja como ocupantes de cargos oficiais e clérigos profissionais contrasta com seu verdadeiro significado na linguagem bíblica e impossibilita o sacerdócio dos crentes.


O Problema do Moderno Rol Pastoral Pela mesma razão, a noção comumente aceita do "pastor único" (um só pastor) entra em choque com a noção do NT. Não há uma palavra na Bíblia que descreva alguém no timão de uma igreja local,dirigindo seus assuntos, pregando a cada domingo, conduzindo batismos, e oficiando o serviço da comunhão (ou Ceia do Senhor).

O "rol pastoral" profissional altamente especializado do moderno protestantismo é uma novidade pós-bíblica que evoca uma tradição sacerdotal inventada pelos homens.

Em sua essência é uma herança do romanismo (o sacerdote) que reflete os pobres e débeis elementos da economia levítica.O rol pastoral é tão pernicioso que perverte a muitos que ocupam tal posição. Os que são seduzidos por símbolos do êxito que rodeia o clericalismo profissional, sempre terminam sendo virtualmente corrompidos por ele. Deus nunca chama ninguém para que carregue sobre seus ombros o pesado encargo de ministrar as necessidades da igreja.

Quiçá a característica mais desalentadora do moderno rol pastoral é que mantém na infância espiritual as pessoas que afirma servir. Na medida em que o rol pastoral usurpa o direito do crente de ministrar de uma maneira espiritual, termina deformando o povo de Deus, fazendo-o débil e inseguro.Claro que muitos que atuam neste rol o fazem por razões saudáveis, e não são poucos aqueles que desejam sinceramente que seus irmãos assumam uma responsabilidade espiritual. (Muitos pastores vivem com esta frustração, mas poucos relacionam o problema com sua profissão).Assim, pois, o moderno ofício de "pastor" sempre sufoca e arrebata o poder do sacerdócio dos crentes, sem levar em conta o quão fora de controle pode chegar a ser a pessoa que alcança esta posição.

Na medida em que o pastor assume a carga de trabalho, a maioria dos irmãos mergulha na passividade, pesarosos e egoístas deixam de crescer espiritualmente. Desta maneira, é inevitável que pastores e congregações terminem igualmente convertendo-se em inválidos espirituais, inutilizados por este oficio antibíblico.

O NT chama Paulo de "apóstolo", Filipe de "evangelista", Manaén de "mestre" e Agabo de"profeta", mas nunca identifica alguém como pastor! De fato, a palavra "pastor" é utilizada apenas uma vez em todo o NT (veja Efésios 4:11). "Pastor" é usado como metáfora descritiva, nunca como título ou oficio eclesiástico. Isso não é levado em conta na prática comum. Em nossos dias o "pastor" é tido como a figura mais valiosa da igreja, e seu nome brilha com destaque nas igrejas em todas as partes da União Estadunidense. (É de se perguntar porque os nomes dos outros ministérios não aparecem nestas luminárias quando o NT lhes outorga bem maior atenção).O rol pastoral moderno sufoca a Chefatura de Jesus Cristo e tem um efeito espiritual paralisante na igreja. Despoja-a de sua plena função sacerdotal (de todos os crentes) tão amada por Deus.

Além disso, a própria presença do pastor dilui e afoga os crentes "ordinários" que são igualmente talentosos para pastorear e ensinar o rebanho. (Não percebem o fato de que a Bíblia ensina que cada igreja deve ter múltiplos pastores e que todos os membros têm a responsabilidade pastoral).

Tipicamente, se alguém, que não seja o pastor, se atreve a pastorear ou ensinar as ovelhas (mesmo se esse alguém é digno de confiança, maduro e espiritualmente inteligente), o pastor se sentirá ameaçado e o colocará de lado com o pretexto de "proteger" o rebanho.Sendo mais específico e direto, a idéia que se tem hoje em dia do "pastor" está bem distante do pensamento de Deus. Impõe à dinâmica da comunidade do NT a camisa de força do Antigo Testamento.
Entretanto,apesar das tragédias espirituais que isto engendra, as massas continuam dependendo,defendendo e insistindo na existência deste rol tão antibíblico. Por esta razão os chamados "leigos" são tão responsáveis pelo problema do clericalismo como o próprio "clero". Como diz Jer. 5.31, "os profetas profetizam mentiras, os sacerdotes governam por sua própria autoridade, e o meu povo gosta destas coisas.

Mas o que vocês farão quando tudo isso chegar ao fim?"Falando com toda franqueza, os cristãos preferem a comodidade de ter alguém de fora encarregado da responsabilidade do ministério e pastoreio. Para eles, é melhor pagar um especialista religioso que atenda às necessidades dos irmãos, do que se molestar com as demandas espirituais do serviço e cuidado pastoral, coisas que podem colocar em risco a própria vida.

As palavras do antigo profeta captam o desgosto do Senhor com esta maneira de pensar: "Eles instituíram reis sem o meu consentimento, escolheram líderes sem a minha aprovação." (Ose 8:4a).À luz destes graves fatos, alguém pode perguntar inteligentemente como é que o moderno rol pastoral continua sendo a forma geralmente aceita de liderança na igreja de hoje. A resposta está profundamente arraigada na historia da Reforma, e continua sendo reforçada pelos imperativos culturais atuais.

Nossa obsessão Ocidental no século XX por ofícios e títulos nos levou a contrapor nossas próprias idéias sobre ordem eclesiástica às do NT.
Não obstante, o espírito e os valores das epístolas do NT militam contra a idéia do sistema de um único pastor, assim como do ancião, enquanto oficio.A Escritura igualmente milita contra o conceito de "pastor principal", que consiste na prática comum de elevar um dos pastores (anciãos) a uma posição proeminente de autoridade. Mas o NT em parte alguma aprova a noção de primos inter pares - "primeiro entre iguais". Certamente não de uma maneira oficial ou formal.Esta ruptura entre "o pastor" e os demais anciãos é um acidente da historia.
Na medida em queisto se encaixa perfeitamente bem com nossa maneira aculturada de pensar Ocidental, os crentesmodernos não têm problema em crer que a Escritura ensina esta falsa dicotomia.Em suma, o moderno rol pastoral é pouco mais que uma mescla de liderança, administração,psicologia e oratória do tipo "um-pacote-para-tudo"; tudo em um único pacote para o consumo religioso.Como tal, o rol sociológico do pastor, como se pratica no Ocidente, tem poucos pontos de contato comalgo ou alguém do NT.

O Dramático Desprezo com que o Novo Testamento Trata os Líderes

As cartas de Paulo têm muito a dizer com respeito à importância de uma vida exemplar, mas nãomostram interesse no cargo titular ou formal. Este fato merece muito mais atenção do que até agorarecebeu.Considere o que segue.

Cada vez que Paulo escrevia a uma igreja em crise sempre se dirigia àprópria igreja em vez de dirigir-se a seus líderes. Esta prática é constante desde a primeira até a última desuas epístolas. (Note que as "Epístolas Pastorais" - 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito - foram escritas para oscolaboradores apostólicos de Paulo e não para as igrejas).Permita-me repetir isso.

Cada vez que Paulo escrevia uma carta a uma igreja, ela era dirigida a toda igreja. Paulo nunca escreveu a um líder ou a líderes! Gálatas 1: 1-2: Paulo, apóstolo enviado, não por parte de homens nem por meio de pessoa alguma, mas por Jesus Cristo e por Deus. . . às igrejas da Galácia. 1 Tessalonicenses 1:1: Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses... 2Tessalonicenses 1:1: Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus nosso Pai e no Senhor Jesus Cristo... 1 Coríntios 1:1-2: Paulo, chamado para ser apóstolo de Cristo Jesus pela vontadede Deus. . . à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados paraserem santos, juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o nome de Nosso Senhor JesusCristo, Senhor deles e nosso. 2 Coríntios 1:1: Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, com todos os santos de toda a Acaia. Romanos1:1,7: Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus. . .a todos que em Roma são amados de Deus e chamados para serem santos. Colossenses 1:1: Paulo,apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, aos santos e fiéis irmãos em Cristo Jesus que estão em Colossos. Efésios 1:1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso. Filipenses 1:1: Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos (episkópois = vigilantes) ediáconos (diakónois = servidores).É notável observar que cada igreja a que Paulo escreveu estava em crise (exceto a de Éfeso). Nãoobstante, Paulo nunca recorre aos anciãos de nenhuma delas!Tomemos Corinto, por exemplo, a igreja com maiores problemas que se menciona no NT.

Emtoda a correspondência aos Coríntios, Paulo não se dirige aos anciãos, nem lhes repreende, nemrecomenda que se lhes obedeça. De fato, nem mesmo os menciona!Em vez disso Paulo recorre a toda a igreja. Lhes mostra que sua responsabilidade é tratar com asferidas que a igreja infringiu a si mesma. Paulo encarrega e implora "aos irmãos" mais de trinta vezes em1 Coríntios, e lhes escreve como se não existissem cargos oficiais.Se existissem cargos oficiais em Corinto, Paulo certamente se dirigiria a eles para quesolucionassem os males. Mas nunca faz isso.

No final da carta, conclama os Coríntios a se colocarem a disposição de Estefanas, que se havia dedicado a servir aos crentes. Em seguida, amplia este grupo,incluindo "todos os que cooperam e trabalham conosco". (1 Cor. 16:15-16).Note que Paulo enfatiza a função, nunca a posição. Dirige a ênfase a toda a igreja. A totalidade da carta aos Coríntios é uma súplica a toda a assembléia para que se encarregue de resolver seus próprios problemas.Provavelmente, o exemplo mais claro da ausência de anciãos-com-cargos-oficiais em Corinto seencontre em 1 Coríntios 5. Ali Paulo convoca toda a igreja para disciplinar um membro caído entregandooa Satanás (1 Cor. 5:1ss.). Sua exortação se opõe à idéia bem em voga de que apenas os que possuem"poder eclesiástico" estão qualificados para estas delicadas tarefas.A diferença na maneira com que Paulo considera aos anciãos e a forma como as igrejas modernas os consideram é extraordinária. Paulo não menciona os anciãos nem mesmo uma única vez em nenhuma de suas nove cartas às igrejas! Incluindo seu tratado ultra corretivo aos Gálatas.

Pelo contrário, Paulo persistentemente insta aos "irmãos" à ação.Na última carta que dirige a uma igreja, Paulo finalmente menciona os episcopos em uma saudação inicial, e de uma maneira bem breve. Saúda aos episcopos somente depois de saudar toda a igreja (Fil.1.1).

Esta tendência é notável no livro aos Hebreus. Ao longo de toda epístola o escritor se dirige a toda igreja. Somente no final da carta e de maneira informal pede aos santos que saúdem seus episcopos (Heb.13:24).Em suma, a evidente falta de atenção que Paulo dá aos líderes da igreja demonstra que rechaçava a idéia de que certas pessoas na igreja possuíam direitos formais sobre outras. Também se destaca o fato de que Paulo não cria em cargos oficiais eclesiásticos.

As cartas de Pedro ensinam o mesmo. Como Paulo, Pedro escreve suas cartas às igrejas, e nunca a seus líderes. Concede um espaço limitado aos anciãos, e quando o faz, lhes adverte que não adotem oespírito dos Gentios.

Enfatiza especialmente que os anciãos estão em meio ao rebanho e não sobre ele (1Pedro 5:1-2).Aos anciãos diz que não devem agir como dominadores (katakuriéuo) sobre os que estão a seu cuidado (1 Ped. 5.3). De modo significativo, Pedro usa a mesma palavra que Jesus empregou em sua discussão acerca da autoridade. Estas foram exatamente Suas palavras: ". . . os governantes das nações as dominam (katakuriéuo). . . não será assim entre vocês" (Mat. 20:25).Encontramos esta mesma ênfase no livro de Atos.

Ali Lucas conta a historia de como Paulo exortava aos anciãos de Éfeso: "cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho no meio do qual o Espírito Santo os colocou como episcopos..." (Atos 20:28 NASB). Note que os anciãos estão "no meio", e não"sobre" o rebanho.

Tiago, João e Judas escrevem no mesmo tom. Dirigem suas cartas às igrejas e não aos líderes. Tem bem pouco a dizer acerca da liderança e nada a dizer acerca dos anciãos como ocupantes de cargos oficiais.Por conseguinte, é bem claro que o NT rechaça sistematicamente a noção de cargos oficiais eclesiásticos na igreja. Nesta mesma linha minimiza grandemente o rol dos anciãos

.Anciãos versus Irmandade Faríamos bem em perguntar a razão pela qual o NT concede tão pouco espaço aos anciãos das igrejas. A razão, quase sempre ignorada e que soa estranha aos ouvidos institucionais é simplesmente esta: a maior parte da responsabilidade do cuidado pastoral, do ensino e do ministério na ekklesia descansa diretamente sobre os ombros de todos os irmãos e irmãs!As riquezas da perspectiva do Corpo de Cristo que emana da visão de Paulo se deriva de sua ênfase constante em que cada membro possui um dom do Espírito (1 Cor. 12:7,11), tem um ministério e é um"crente responsável" no Corpo (Rom. 12:6; 1 Cor. 12:1ss.; Efe. 4:7; 1 Ped. 4:10).

Como conseqüência, a responsabilidade ministerial nunca deve estar restrita a alguns poucos.Isto explica por quê a palavra adelfoi, traduzida como "irmãos", aparece 346 vezes no NT e 134vezes só nas epístolas de Paulo. A maioria das vezes esta palavra é a forma abreviada que Paulo usa referindo-se a todos os crentes da igreja, homens e mulheres. Em contraste, a palavra "anciãos" aparece somente cinco vezes nas epístolas de Paulo. A palavra "episcopos" aparece nada mais que quatro vezes ea palavra "pastores" aparece apenas uma única vez!O NT enfatiza a responsabilidade coletiva.

É a comunidade crente que é chamada a levar a cabo as funções pastorais. Os irmãos e as irmãs (= toda a igreja) são chamados a: Organizar suas próprias questões (1 Cor. 11:33-34; 14: 39-40; 16:2-3); Disciplinar membros caídos (1 Cor. 5:3-5; 6:1-6);Admoestar indisciplinados (1 Tes. 5:14); Animar desanimados (1 Tes. 5:14); Apoiar débeis (1 Tes. 5:14); Abundancia na obra do Senhor (1 Cor. 15:58); Admoestação mútua (Rom. 15:14);Ensino mútuo (Col. 3:16); Profetização mútua (1 Cor. 14:31); Serviço mútuo (Gál. 5:13); Auxílio mútuo(Gál. 6:2); Preocupação mútua (1 Cor. 12:25); Amor mútuo (Rom. 13:8; 1 Tes. 4:9); Honra e preferência mútua (Rom. 12:10); Bondade e tolerância mútua (Efe. 4:32); Edificação mútua (Rom. 14:19; 1 Tes.5:11b); Compassividade e paciência mútua (Efe. 4:2; Col. 3:13); Exortação mútua (Heb. 3:13; 10:25);Estímulo mútuo e amor pelas boas obras (Heb. 10:24); Ânimo mútuo (1 Tes. 5:11a); Oraçãomútua (Stg. 5:16); Hospitalidade mútua (1 Ped. 4:9); Comunhão mútua (1 Jn 1:7); Confissão mútuados pecados (Stg. 5:16). Com dramática clareza, todas estas exortações "mútuas" encarnam a indiscutível realidade de que cada membro da comunidade deve assumir a responsabilidade do cuidado pastoral.

A liderança é um assunto coletivo e não algo que alguém realiza sozinho. O Corpo como um todo deve assumir esta responsabilidade.

Por conseguinte, a idéia de que os anciãos dirigem os assuntos da igreja, tomam decisões pela assembléia, tratam de todos seus problemas e provêem ensino, é algo alheio ao pensamento de Paulo.

Semelhante idéia é uma fantasia e carece de respaldo bíblico. Não é de estranhar o atrofiamento da maturidade espiritual nas igrejas guiadas por anciãos, onde a maior parte dos membros se converte em espectadores passivos e indolentes.Em suma, o NT não contém uma só palavra acerca de uma igreja governada ou dirigida por anciãos. E menos ainda de uma igreja conduzida por um pastor! A igreja do primeiro século estava nas mãos de um coletivo composto por irmãos e irmãs. Pura e simplesmente.

O exemplo da igreja primitiva nos mostra como o ministério de todo o Corpo deve sobrepujar o rol supervisor dos anciãos. Devido a sua maturidade espiritual, os anciãos representavam mais um modelo de cuidado pastoral (Atos 20:28-29; Gál 6:1; Heb. 13:17b). Sua meta, juntamente com os obreiros extra locais, era habilitar os santos para que assumissem sua responsabilidade a favor do rebanho (Efe. 4:11-12;1 Tes. 5:12-13).

Os anciãos podem ser simultaneamente profetas, mestres e evangelistas; mas nem todos profetas, evangelistas e mestres são anciãos. (Uma vez mais, os anciãos são os homens mais confiáveis emaduros da igreja).

O NT enfatiza a responsabilidade da igreja como um todo.

A liderança e a responsabilidade pastoral repousa sobre os ombros de cada membro da igreja, e não sobre as costas de determinada pessoa ou grupo.Na eclesiologia divina, a irmandade preenche e suplanta o grupo de anciãos. Isto explica por que as cartas de Paulo se tornam pesadas quando tratamos de forçar a idéia de títulos e cargos oficiais. Paulo ensina a liderança coletiva e condena o caciquismo espiritual de uma chefatura suprema.

Por esta razão,fala bem mais acerca da irmandade que dos anciãos.O testemunho do NT denunciando a autoridade posicional/hierárquica é evidentemente claro, e está em perfeita harmonia com o ensino de nosso Senhor Jesus. Como tal, a palavra final ao cristão com respeito às estruturas de liderança gentílicas e judaicas está encarnada na penetrante frase de nosso Senhor: "Não será assim entre vocês". (Mat. 20:26). Este é o eixo de toda a questão. Ao longo dos séculos, certas passagens do NT foram manipuladas para respaldar estruturas de liderança hierárquica e ofícios na igreja. Isto provocou muito dano no Corpo de Cristo.

Como vimos no capítulo anterior, a ênfase do NT com relação ao ministério de liderança está na"ação" e no "funcionamento", e não na "posição" e no "cargo". De fato, na igreja primitiva não havia coisas como "ofícios eclesiásticos".A noção de autoridade posicional/hierárquica é em parte resultado de traduções ruins e interpretações ainda piores de certas passagens bíblicas. Estas más traduções e interpretações resultaram da influência de diversos fatores culturais.

Estes fatores tergiversaram o significado original da linguagem bíblica. Transformaram simples palavras em títulos eclesiásticos carregados de poder.Assim, tais títulos não têm origem na Santa Escritura. Por isso é necessária uma releitura do NT em sua língua original para compreender adequadamente certos textos. Uma visita ao texto grego nos permite levantar sobriamente os seguintes fatos:

Os bispos são simples guardiões (episkópoi), e não altos dignitários eclesiásticos.

Os pastores são vigilantes (poiménes), e não estrelas profissionais do púlpito.

Os ministros são ajudantes (diáakonoi), e não clérigos.

Os anciãos são gente idosa e madura (presbúteroi) e não ofícios eclesiásticos.

É com gratidão que vemos como um crescente número de eruditos do NT está descobrindo que a terminologia de "liderança" do NT possui matizes descritivos que denotam funções especiais na igreja,em vez de posições formais.

O que segue é uma lista de objeções comuns que surgem a respeito da idéia de que liderança na igreja não é cargo oficial, título, nem posto hierárquico.

Cada objeção é seguida por uma clara resposta.Objeções do Livro de Atos e do Corpus Paulino(1) Atos 1:20, Romanos 11:13, 12:4 e 1 Timóteo 3:1,10,13 não se referem a ofícios eclesiásticos?A palavra "ofício" [ou "cargo oficial"] em todas estas passagens é inapropriada, porque não há equivalente no texto original. De fato, em nenhuma parte do texto grego do NT encontramos o equivalente a "oficio" sendo utilizado em conexão com algum ministério, função ou liderança na igreja.A palavra grega para "oficio" se emprega unicamente referindo-se ao Senhor Jesus em Seu ofício de Sacerdote (Heb. 5-7). Também é usada referindo-se ao sacerdócio Levítico (Luc. 1:8).A versão inglesa King James [KJV] traduz equivocadamente Romanos 11:13: ". . . I magify mineoffice" ["enalteço meu oficio"]. A palavra grega aqui traduzida como "oficio" significa serviço, e não oficio.

Por conseguinte, uma melhor tradução de Romanos 11.13 seria, "... honro meu serviço [o ministério] (diakonía)".De maneira semelhante, Romanos 12:4 seria mais bem traduzido assim: "...nem todos os membros tem a mesma função (praxis)". No grego a palavra praxis significa uma atividade, uma prática ou função,em vez de um oficio ou posição (veja a Bíblia Textual [BT], a Nova Versão Internacional [NVI] e a Bíblia das Américas [BA]).Por último, 1 Timóteo 3:1 na KJV é traduzido assim: "If a man desires the office of a bishop..."["Se um homem deseja o ofício de um bispo..."]. Mas uma tradução mais precisa seria: "Se alguém aspira vigiar..." (veja também a tradução da Bíblia de J.N. Darby).(2)A lista de requisitos que Paulo apresenta nas Epístolas Pastorais, ou seja, 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:7-9 não indica que ancião se refere a um ofício?As cartas de Paulo a Timóteo e a Tito foram denominadas "Epístolas Pastorais" no século XVIII("Pastoral Letters", Dictionary of Paul and His Letters, InterVarsity Press). Mas tal título não é correto.Timóteo e Tito nunca foram pastores! Eram colaboradores apostólicos normalmente itinerantes.Bem raramente se detinham em algum lugar por um longo período de tempo. (Por exemplo, Paulo enviouTito a Creta e Timóteo a Éfeso para fortalecer aquelas igrejas e corrigir alguns problemas internos).

Pelo fato de viajarem por diversos lugares plantando igrejas, Paulo nunca chamou Timóteo e Titode anciãos ou pastores. Estes homens formavam parte do círculo apostólico de Paulo - um grupo que se destacou por suas contínuas viagens. (Rom. 16:21; 1 Cor. 16:10; 2 Cor. 8:23; 1 Tes. 1:1; 2:6; 3:2; 2 Tim.2:15; 4:10).Tudo o que está escrito em 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito deve ser compreendido desta perspectiva.Isto certamente explica algumas das diferenças entre tais epístolas e o restante das cartas de Paulo. Em 1e 2 Timóteo e Tito, a metáfora do Corpo está ausente por completo. Menciona-se ocasionalmente aos"irmãos", e há pouca ênfase no mútuo ministério.

Pela mesma razão, nestas epístolas não encontramos nada parecido com um catolicismo nascente.Mencionam o Espírito de Deus, assim como Seus dons, e afirma que os líderes devem lograr reconhecimento pelo seu exemplo, e não pelo fato de ocuparem alguma posição.O que temos nestes textos são, portanto, as qualidades essenciais de um verdadeiro vigilante, e não uma lista de requisitos necessários ao exercício de um oficio.A somatória de todas estas qualidades é: retidão moral e responsabilidade. Piedade e estabilidade.As listas de Paulo, portanto, serviram meramente como guia para ajudar Timóteo e Tito a identificar efirmar guardiões [ou vigilantes] nas igrejas locais onde atuavam (1 Tim. 5:22; Tito 1:5).A demais, o sentido destes textos em grego refere-se à função e não a ofícios. Paulo não chama o viajante ou o guardião como "titular de um cargo". Chama tais atividades como "nobre função" (1 Tim.3:1b, NVI).

Por outro lado, em 1 Timóteo 5:17, emprega uma linguagem funcional quando recomendaque se honre aos anciãos que "orientam bem" e que "dedicam seus esforços" à proclamação e ao ensino.Por conseguinte, confundir os guardiões ou vigilantes mencionados nestes textos com os modernos"funcionários" eclesiásticos - como o atual pastor - é pura fantasia. Isto se deve a nossa tendência de impor sobre o NT nosso convencionalismo organizativo. É por causa de uma estrutura cultural absorvida que introduzimos esse sentido ao texto e nada mais.

Em suma, a linguagem da função em vez do ofício domina as "Epístolas Pastorais" assim como ocorre com as demais epístolas de Paulo.(3) 1 Coríntios 12:28 diz: "E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar,profetas, em terceiro, doutores. . ." Não descreve este texto uma hierarquia de ofícios eclesiásticos?Esta pergunta revela nossa inclinação para ver a Escritura com as lentes contaminadas da hierarquia humana. Insistir em que cada um destes itens deve ser compreendido em termos hierárquicos de uma cima outro abaixo é uma mania peculiarmente estadunidense. De forma que cada vez que encontramos no NT uma lista estruturada (como 1 Coríntios 12:28), parece que não podemos escapar de inferir que aquilo implica em uma hierarquia.

Indubitavelmente, nós ocidentais do século XXI, gostamos de pensar em termos organizativos estilo organograma, mas a Bíblia nunca faz assim. Pensar que toda lista estruturada que vemos na Escritura possui algum tipo de hierarquia velada é um pressuposto injustificado.Ver uma hierarquia no catálogo de dons de 1 Coríntios 12:28 é no mínimo uma má interpretação de Paulo, influenciada culturalmente. A questão das estruturas de autoridade não aparece em nenhuma parte deste texto.

Uma boa exegese desta passagem não nos conduzirá a qualquer idéia de hierarquia. Somos nós que impomos tal idéia no texto!Uma leitura mais natural desta passagem indica que a ordem reflete uma prioridade lógica, nunca uma hierarquia.

Em outras palavras, a ordem mostra alguns dons maiores no que diz respeito à edificação da igreja (compare com 1 Cor. 12:7,31; 14:4,12,26). Esta interpretação harmoniza perfeitamente com o contexto imediato em que aparece (1 Cor. 12-14).Paulo está dizendo que dentro do âmbito da edificação da igreja, o ministério do apóstolo é fundamental. Isto se deve ao fato dos apóstolos dar nascimento à igreja e a sustentarem durante seu desenvolvimento pré-natal. Os apóstolos revolvem a terra e plantam a semente da ekklesia. (A semente é Cristo).Na medida em que os apóstolos cimentam a igreja, destacam primeiramente (cronologicamente) aobra da edificação da igreja (Rom. 15:19-20; 1 Cor. 3:10; Efésios 2:20).

É significativo que ao mesmo tempo em que os apóstolos são colocados em primeiro lugar no esquema de formação da igreja, figuram no último lugar aos olhos do mundo - Mat. 20:16; 1 Cor. 4:9!Os profetas aparecem em segundo lugar na lista. Isto indica que seguem imediatamente aos apóstolos pelo que significam para a edificação da igreja. Muita confusão (e abuso) rodeia a função de profeta.Em poucas palavras, os profetas provêem a igreja de visão e estímulo espiritual. Como os apóstolos, os profetas revelam o mistério do propósito de Deus para o presente e o futuro (Atos 15:32; Efésios 3:4-5). Também arrancam pela raiz as ervas daninhas para que a igreja possa crescer livre de estorvos.Os mestres são mencionados em terceiro lugar, indicando com isso que vem depois dos profetas novalor de seus dons no que diz respeito à edificação da igreja.

Os mestres colocam a igreja sobre umsólido terreno doutrinário e provêem instrução sobre os caminhos de Deus. Também pastoreiam aossantos em tempos difíceis.Continuando na metáfora, o mestre rega a semente e fertiliza a terra para que a igreja possa crescer e florescer. Se examinarmos o mestre de uma maneira cronológica, os mestres constroem a super estruturada igreja depois de que os apóstolos e os profetas erigem o plano básico.Esta interpretação de 1 Coríntios 12:28 segue bem mais a linha do pensamento de Paulo, do que a idéia de una estrutura de mando hierárquica onde apóstolos "fazem valer seus privilégios" sobre profetas- e profetas fazem o mesmo com os mestres.

Além disso, esta interpretação traz ao primeiro plano um importante principio espiritual: a ausência de autoridade hierárquica não significa que todos os dons sejam iguais!Ao mesmo tempo em que o NT afirma que todos recebem dons e têm um ministério, também afirma que Deus distribui Seus dons de uma maneira variada (1 Cor. 12:4-6).

Cada dom é valioso para o Corpo de Cristo, e alguns dons são maiores que outros dentro de suas respectivas esferas (Mat. 25:14-15;1 Cor. 12:22-24,31; 14:5).Isto não significa que aqueles que têm dons maiores têm autoridade maior (ou vice versa) em algum sentido formal. Deus chamou a cada um de nós para uma obra diferente. E alguns têm dons maiores para tarefas distintas.Por exemplo, alguns são chamados para plantar igrejas.

Outros, para o evangelismo local. E outros ainda recebem dons para mostrar misericórdia. Todos têm diferentes dons com diferentes responsabilidades. Alguns tem maior responsabilidade que outros (Rom. 12:6; Ef. 4:7).Dentro da esfera de nossos dons, cada membro é indispensável para a edificação geral da igreja -mesmo aqueles membros cujos dons não são externamente impressionantes (1 Cor. 12:22-25).

Por conseguinte, cada cristão na casa do Senhor é responsável pelo uso e incremento de seus dons. Todos nós somos advertidos contra a tentação de enterrá-los por temor (Mat. 25:25).Em suma, a idéia de que 1 Coríntios 12:28 denota algum tipo de hierarquia eclesiástica carece de força argumentativa. O texto tem em mente os dons maiores, considerados sob o pano de fundo da ordem cronológica da construção da igreja.
Isto não aponta para coisas como a lei do mais forte de uma hierarquia eclesiástica ou para graus de autoridade que os cristãos devem escalar.(4) Atos 20:28, 1 Timóteo 5:17, 1 Tessalonicenses 5:12 e Hebreus 13:7,17,24 não mostram que os anciãos têm que governar a igreja?A palavra "governar" nestes textos destoa com o restante do NT, além disso, não há um único termo semelhante a ele em todo o texto grego do NT.

Este é, sem dúvida, outro caso onde certas traduções confundem o moderno leitor pelo emprego de uma terminologia religiosa culturalmente condicionada.Vejamos agora cada passagem mencionada na objeção anterior. A palavra "governar" em Hebreus13:7,17,24 é uma tradução do vocábulo grego grego hegéomai, que significa simplesmente guiar,conduzir ou seguir adiante. F.F. Bruce, um profundo conhecedor do NT, em seu comentário à carta aos Hebreus traduz hegéomai como "guiar" (Epístola aos Hebreus, Ed. Nova Criação). Estes textos comunicam a idéia de "os que lhes guiam", em vez de "os que lhes governam".No mesmo sentido, em 1 Tessalonicenses 5:12, a palavra "presidir" (RV-1960) é uma tradução da palavra grega proístemi. Este termo sugere a idéia de estar à frente, supervisionar, guardar e prover cuidado. Eruditos do NT como F.F. Bruce e Robert Banks explicam que este termo não tem a força técnica de uma designação oficial porque é usado como particípio e não como substantivo.

Além disso,está colocado entre outros particípios que não designam caráter oficial (F.F. Bruce, 1 & 2 Thessalonians,WBC, Word; Robert Banks Paul´s Idea of Community, Hendrickson).Bruce traduz 1 Tessalonicenses 5:12-13 assim: "Agora lhes pedimos, irmãos, que reconheçam aqueles que trabalham arduamente entre vocês, que cuidam e instruem vocês no Senhor. Tenham alta estima por eles por causa de sua obra". Essa mesma palavra (proístemi) aparece novamente em 1Timóteo 5:17 e também é traduzida incorretamente como "governar" nas traduções da RV-1960 e da BA.Além disso, em Atos 20:28, o texto grego diz que os anciãos estão "entre" (no meio de) o rebanho e não"sobre" ele (como traduz a versão da NVI).O mesmo ocorre com a declaração de Paulo em 1 Timóteo 3:4-5. A menção de que os vigilantes ou supervisores devem "governar (proístemi) também sua própria casa" não se refere à sua habilidade para exercer poder.
Pelo contrário, tal passagem destaca sua capacidade na responsabilidade de supervisão e sustento aos demais. A hora de fazer as coisas é o momento em que nosso caráter é mais severamente provado. É a isso a que Paulo se refere ao descrever o caráter dos vigilantes ou supervisores.

Em todas estas passagens, a idéia básica é vigiar em vez de mandar. Supervisionar em vez de dominar. Facilitar em vez de ditar ordens. Oferecer direção em vez de governo.O texto grego apresenta a imagem de alguém que está em meio ao rebanho, guardando e cuidando dele (como faria um servo eminente).

Evoca o pastor atento às ovelhas. Não o que as conduz por traz ouo que as governa por cima!Mais uma vez, o propósito do ensino apostólico demonstra sistematicamente que a idéia de Deus a cerca da liderança na igreja entra em choque com o rol de práticas convencionais da liderança empresarial composta por altos executivos.(5) Não é verdade que Romanos 12:8 ensina que Deus dota alguns crentes para governar na igreja,porque Paulo disse, "o que preside [que o faça] com diligencia"?A versão bíblica inglesa KJV usa a palavra "ruleth" ["governa"] no texto.

Mas a palavra grega que aparece aqui é proístemi. Esta palavra alude ao que vigia e presta ajuda aos demais. Não se refere ao que os governa e controla.O texto é mais bem traduzido assim: "...o que vigia e cuida, que o faça diligentemente" A idéia de Paulo aqui é claramente de fervente cuidado em vez de poder ditatorial.(6) Atos 14:23 e Tito 1:5 ensinam que os anciãos são ordenados, isso não implica no estabelecimento de um ofício?Primeiramente, a menção de reconhecimento apostólico (nomeação) favorece mais a maneira funcional de pensar do que a interpretação posicional. Em Tito 1:5 a palavra traduzida como "designar"no grego é kathístemi e significa "por".Em Atos 14.23, a palavra usada é jeirotonéo e significa "estender a mão". Ambos trazem a idéia de reconhecer o que os outros já haviam aprovado.

Estas palavras eram utilizadas desta forma na literaturado primeiro século, mesmo fora do NT.Segundo, não há a menor prova de evidencia textual que apóie a idéia de que o reconhecimento bíblico outorgue ou confira autoridade. Paulo nunca concedeu autoridade para que alguém se colocasse acima do restante dos demais membros da comunidade.

O Espírito Santo é quem estabelece guardiãos(Atos 20:28). Os anciãos existiam na igreja antes de serem reconhecidos externamente.O reconhecimento apostólico meramente torna público o que o Espírito Santo realiza. A imposição de mãos é um sinal de comunhão, unidade e afirmação, não uma graça especial ou transmissão de autoridade. Por conseguinte, é um tremendo erro confundir reconhecimento bíblico com ordenação eclesiástica.

A imposição de mãos não qualifica nenhum especialista religioso a fazer mais do que o restante dos mortais sem títulos pode fazer!Pelo contrário, o reconhecimento bíblico é simplesmente a confirmação externa efetuada pela igreja dos já comissionados pelo Espírito para uma tarefa específica. Funciona como um testemunho visível de reconhecimento público.Nas modernas igrejas caseiras, o reconhecimento público funciona como um cavalo de Tróia.

Alguns homens simplesmente são incapazes de manejar este reconhecimento. Infla-lhes o ego. O título lhes provoca uma viagem ao poder. Pior ainda, transforma-os em poderosos monstros.Devemos recordar que no primeiro século havia obreiros itinerantes que reconheciam publicamenteos guardiões (Atos 14:23; Tito 1:5).

Por conseguinte, cabe aos obreiros de fora discernir o tempo e o método de como os guardiões devem ser reconhecidos. (Igrejas modernas caseiras, nunca se esqueçam disso!).O reconhecimento dos guardiões não deve ser imposto - quando eles emergem - pois se converterão em um molde rígido.

Alguns plantadores de igrejas reconhecem diretamente os guardiões.Outros o fazem tacitamente. (Nesse aspecto, não há respaldo bíblico para anciãos auto designados ou designados pela congregação).A realidade é que quando reconhecemos anciãos na forma de cerimônias, licenças, títulos de seminário, eleição por votação, etc., falamos sobre coisas que a Bíblia silencia.

Faríamos bem em não esquecer que embora exista o principio do reconhecimento de anciãos no NT, o método é aberto. Sempre tem o sentido de reconhecer uma função dinâmica em vez de instalar um oficio estático.A demais, se os anciãos são reconhecidos por obreiros de fora que conhecem bem a igreja, estamos em terreno Escritural seguro. Isto salvaguarda a igreja de ser controlada e manipulada por uma liderança auto imposta. Nomear anciãos de outra maneira é navegar à deriva, fora dos limites assinalados pela Bíblia.(7) Paulo não emprega a palavra "apóstolo" como um título oficial quando se refere a si próprio?Contrariamente ao que atualmente se pensa, na maior parte de suas cartas, Paulo afirma implicitamente que não é um apóstolo profissional.

Embora torne pública sua função especial na saudação de suas epístolas (por exemplo, "Paulo, um apóstolo de Cristo Jesus"), Paulo nunca se identifica como "o apóstolo Paulo".Esta é uma distinção significativa. O primeiro caso descreve uma função especial baseada em uma comissão divina, enquanto que no outro é um título oficial.De fato, em nenhuma parte do NT encontramos que ministérios ou funções no Corpo seja mutilizados como títulos honoríficos pelos servos de Deus.

Os cristãos aficionados por títulos necessitam refletir seriamente sobre isto!(8) Efésios 4:11 não mostra uma corporação de clérigos quando diz, "Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. . ."De maneira alguma. Efésios 4 tem em vista aqueles dons que equipam a igreja para a diversidade do serviço (vv. 12-16). Os dons enumerados no texto são na realidade pessoas dotadas para capacitar aigreja (vv. 8,11). Estes são os dons que o Espírito Santo reparte a cada individuo como Ele quer (1 Cor.12:11).Em outras palavras, Efésios 4 não trata dos dons dados a homens e mulheres. Trata de homens emulheres providos de dons que são dados à igreja. Apóstolos, profetas, evangelistas e pastores/mestressão pessoas que o Senhor levantou e outorgou à igreja para sua formação, coordenação e edificação.Sua tarefa principal é nutrir a comunidade de crentes para que participem responsavelmente de acordo com os princípios divinos.

O êxito desta tarefa se fundamenta na habilidade que possuem para capacitar e mobilizar os santos para a obra do ministério. Desta maneira, os dons de Efésios 4 equipam(do grego: katartízo = completar, preparar; e katartismós = capacitação, aperfeiçoamento) o Corpo de Cristo para que este leve a cabo o propósito eterno de Deus.Estes dons não são ofícios nem posições formais. Tais termos gregos não constam do texto. Trata-se de irmãos com dons "habilitadores" peculiares, dados para cultivar os ministérios de seus irmãos.

Os apóstolos capacitam a igreja desde seu nascimento, ajudando-a até que possa caminhar pelos próprios pés (discutiremos a função apostólica com mais detalhes no cap. 5).

Os profetas adestram a igreja falando a ela a palavra presente do Senhor, confirmando os dons de cada membro, preparando-a para as provas futuras.

Os evangelistas habilitam a igreja servindo como modelo na pregação das boas novas aos perdidos.

Os pastores/mestres instruem a igreja cultivando sua vida espiritual por meio da exposição da Escritura.

Alguns crêem que pastores e mestres são dois ministérios separados, enquanto que outros os vêem como dimensões distintas do mesmo ministério. Nesse último conceito, pastorear seria o lado privado deste ministério, enquanto que seria o lado público.

Os ministérios de Efésios 4 (eventualmente chamados como "o quíntuplo ministério") não equivalem a liderança da igreja. Apóstolos, profetas, evangelistas e pastores/mestres podem ser anciãos ou não.Em suma, Efésios 4:11 não contempla coisas como clero assalariado, ministério profissional ou algum tipo de sacerdócio fabricado.

Tampouco se refere a uma classe diferente de cristãos. Assim como o catálogo de dons apresentados por Paulo em 1 Coríntios 12.28, Efésios 4 tem em vista funções especiais em vez de posições formais.(9) A menção de "governos" em 1 Coríntios 12:28 acaso não mostra que a igreja primitiva possuía ofícios eclesiásticos?O vocábulo grego traduzido por "governos" em diversas versões portuguesas é kubérnesis. De acordo com o erudito Gordon Fee, "esta mesma palavra aparece três vezes na versão LXX [Antigo Testamento Grego], trazendo consigo a idéia verbal de proporcionar 'direção/orientação' a alguém".Dice Fee afirma que a palavra seria mais bem traduzida como "ato de guiar/orientar". Bem provavelmente refere-se ao ato de aconselhar com sabedoria a toda a comunidade e não simplesmente aos indivíduos (Primera Epístola a los Coríntios, Ed. Nueva Creación, Buenos Aires, 1994, p. 704).Portanto, tratar de ver nesta palavra uma forma de política eclesiástica é injustificável e insustentável. O único "governo" reconhecido pela ekklesia é o governo absoluto de Jesus Cristo (Isa.9:6)! Embora os supervisores proporcionem supervisão à igreja, eles não a "dirigem" nem a "governam".O termo "governo", portanto, é um vocábulo pobre para descrever algum dom espiritual na igreja.(10) A Bíblia não diz que Timóteo foi o "primeiro bispo ordenado da igreja de Éfeso" e que Tito foi ordenado como "o primeiro bispo da igreja Cretense?".Algumas edições da KJV anexaram notas ao final das chamadas "Epístolas Pastorais", mas tais notas não aparecem no texto Grego. Foram inseridas pelos tradutores da KJV.Como já vimos, Timóteo e Tito jamais foram "bispos". Nem mesmo pastores.


Eram colaboradores de Paulo - plantadores de igrejas, consulte (Rom. 16:21; 1 Cor. 16:10; 2 Cor. 8:23; 1 Tes. 1:1; 2:6; 3:2; 2Tim. 2:15; 4:10).Cumpre ressaltar que o episcopado monárquico (o sistema de bispos) se desenvolveu muito tempo depois que o NT foi escrito. A evidencia histórica que sugere que Timóteo e Tito foram os "primeiros bispos" destas igrejas é tão escassa como a de que Pedro foi "o primeiro bispo" de Roma! Todas estas suposições entram em conflito com o relato do NT. São invenções humanas que não tem base bíblica.(11) Atos 15:22 menciona, "eleger varões dentre eles e envia-los". Isto não implica na existência de uma autoridade hierárquica na igreja primitiva?A RV-1960 traduz este texto usando os termos "varões principais", o que dá um sabor hierárquico.

Todavia, a palavra grega usada é hegéomai que significa simplesmente "conduzir" ou "guiar" (consulte a versão NVI).Este texto destaca o fato de Judas e Silas serem homens respeitados na igreja de Jerusalém. Eram homens responsáveis, -provavelmente anciãos. Por esta razão, a igreja de Jerusalém os selecionou como provisórios mensageiros à (compare com Prov. 10:26; 25:19). Uma exegese que compreende este versículo de maneira hierárquica é arbitrária.(12) A metáfora de Paulo do Corpo de Cristo não demonstra que a autoridade funciona de uma maneira hierárquica?Ou seja, quando a Cabeça envia um sinal à mão, deve primeiro envia-la ao braço. De modo que a mão necessita submeter-se ao braço para que possa obedecer à Cabeça.Qualquer um que esteja familiarizado com a anatomia humana sabe que a descrição anterior reflete um conhecimento incorreto do funcionamento do corpo físico.O cérebro envia sinais diretos às partes do corpo que deseja controlar, através do sistema nervoso periférico.

Deste modo, a cabeça controla todas as partes do corpo de maneira imediata e direta. Não faz passar seus impulsos através de uma cadeia de comando recorrendo a outras partes do corpo.A cabeça não ordena à mão que diga ao pé o que ele deve fazer. Pelo contrário, a cabeça está conectada a cada parte do corpo. Por esta razão, a aplicação adequada da metáfora do Corpo preserva a verdade simples de que há apenas uma Autoridade na igreja - Jesus Cristo. Todos os membros estão sob Seu controle direto e imediato.

A este respeito, a Bíblia é clara como cristal quando ensina que Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tim. 2:5). Embora o Velho Pacto tivesse mediadores humanos, o Novo Pacto não os possui. Como participantes do Novo Pacto, não necessitamos de um mediador que nos diga como conhecer o Senhor. Todos os que estão sob este pacto o conhecem diretamente - "desde o menor até omaior" (Heb. 8:6-11).É a mútua sujeição e não a submissão hierárquica o que produz a coordenação adequada do Corpo de Cristo. (Este tema será tratado de maneira mais completa no próximo capítulo).(13) Todo corpo físico tem uma cabeça. Por conseguinte, cada corpo local de crentes necessita de umacabeça. Se não tem uma, haverá caos. Os pastores são as cabeças das igrejas locais. São pequenas cabeças sob o comando de Cristo.

Esta idéia é produto da imaginação do homem caído. Não há nenhuma peça de apoio bíblico a esta idéia. É pura fantasia! A Bíblia jamais se refere a um ser humano como "cabeça" de alguma igreja. Este título pertence exclusivamente a Jesus Cristo. Ele é a única Cabeça de cada assembléia local. Por conseguinte, os que afirmam ser cabeças das igrejas pretendem suplantar a Chefatura executiva de Jesus Cristo!

Objeções de Outros Documentos do NT

(1) Mas Hebreus 13:17 não ordena obediência e sujeição a nossos líderes, implicando assim que os líderes na igreja possuem uma autoridade de ofício?Novamente, consultar o texto grego resulta na maior utilidade. A palavra que traduzida como"obedecer" em Hebreus 13:17 não é a palavra grega (hupakoúo) muito usada no NT para referir-se à obediência, mas o vocábulo peítho que significa persuadir e conseguir. Devido ao fato desta palavra aparecer na entonação mediana/passiva neste texto, deve ser traduzida assim: "deixai-vos persuadir pelos que os guiam".Trata-se de uma exortação que dá peso à instrução dos obreiros (e possivelmente guardiões locais).Não é uma exortação para uma obediência cega. Ela implica em poder persuasivo para convencer e conseguir, sem coerção, força, intimidação, obrigação ou submissão.

Nas palavras do especialista em grego W. E. Vine, "a obediência sugerida [em Hebreus 13:17] não é submissão à autoridade, masresultado da persuasão" (W. E. Vine, Diccionario Expositivo, Caribe, 1999, p. 594).Além disso, o verbo traduzido como "sujeitar" nesta passagem é a palavra hupeiko. Que traz consigo tanto a idéia de ceder, retirar-se, como de render-se depois de uma batalha. Os que se ocupam da supervisão espiritual não exigem submissão. É necessária nossa concordância.Somos incentivados a nos predispor-mos a favor do que eles dizem. Não por causa de um ofício externo que ocupam, mas por seu caráter piedoso, maturidade espiritual e serviço sacrificado a favor dos santos.

Em outras palavras, Hebreus 13:7 exorta-nos a "imitar sua fé" a considerar "qual foi o resultado de sua conduta". Se assim fizermos, poderão levar a cabo mais facilmente a tarefa de supervisão espiritual a que Deus os chamou para executar (v. 17).(2) A Bíblia ensina que os que velam pelas almas da igreja terão que dar contas a Deus. Isso não significa que tais pessoas têm autoridade sobre as demais?Hebreus 13:17 diz que os que provêem supervisão são responsáveis perante Deus por sua tarefa.

Diante da avançada maturidade e dotação espiritual que possuem, Deus lhes deu a responsabilidade de cuidar de seus irmãos. Mas não há nada no texto que estipule que eles possuem alguma autoridade especial sobre outros cristãos! (Veja o ponto anterior).Ser responsável não equivale a ter autoridade. Todos os crentes são responsáveis diante de Deus(Mat. 12:36; 18:23; Lucas 16:2; Rom. 3:19; 14:12; Heb. 4:13; 13:17; 1 Ped. 4:5). Isto não significa que tem alguma autoridade especial sobre os demais.(3) Quando Jesus recomenda Seus discípulos obedecer aos escribas e fariseus pelo fato destes se sentarem na 'cadeira de Moisés' Êle não dá respaldo à autoridade oficial?De forma alguma.

Jesus repreende aos escribas e fariseus por assumirem uma autoridade institucional que não possuíam. Mateus 23:2 diz, "Na cátedra de Moisés se sentaram os escribas e os fariseus".Nosso Senhor estava expondo somente o fato de que os escribas e Fariseus eram mestres auto-nomeados que estavam usurpando autoridade e se colocando acima do povo (Mat. 23:5-7; Luc. 20:46).Sua declaração era uma observação, e não um respaldo.O Senhor deixou inequivocamente claro que apesar de sua pretensão diante dos homens, os escribas e os fariseus não tinham absolutamente nenhuma autoridade (Mat. 23:11-33). De fato, ensinavam a Lei de Moisés, mas não a obedeciam (vv. 3b, 23:23).Visto deste prisma, o versículo que segue que diz: "Fazei e guardai, pois, tudo quanto vos dizem..."(v.3) não pode ser entendido como uma carta branca ao ensino farisaico. Esta interpretação contradiz por completo o versículo que segue (v.4). Também contradiz a outras muitas passagens onde encontramos Jesus resolutamente arrebentando o ensino farisaico - e exortando seus discípulos a fazerem o mesmo(Mat. 5: 33-37; 12:1-4; 15: 1-20; 16:6-12; 12:1-4; 19: 3-9; etc!)Além disso, esta frase (no v. 3) deve ser interpretada tendo em mente a referência do Senhor à"cadeira de Moisés". A "cadeira de Moisés" é uma referência literal a um assento especial colocado em cada sinagoga donde se liam ao povo as Escrituras do Antigo Testamento (E. L. Sukenik, AncientSynagogues in Palestine and Greece, British Academy).

Cada vez que os escribas e Fariseus se sentavam no "assento de Moisés", liam abertamente à Escritura. Na medida em que a Escritura possuía autoridade, era obrigatória a leitura a partir desta cadeira (apesar da hipocrisia dos leitores). Esta é a essência da declaração de Jesus. A lição é que se algum hipócrita e suposto mestre lesse a Bíblia, o que dizia acerca dela teria autoridade.Afirmar que a partir das palavras de Mat. 23:2-3, o Salvador outorga Sua aprovação à autoridade oficial, é o mesmo que dizer que Jesus pode ser substituído pelo Papismo Romano. Esta falsainterpretação não pode seguir o mesmo ritmo que o contexto da passagem, e não reflete nada dosEvangelhos.(4)
O NT Grego não apóia a idéia de que a igreja legitima é formada por clérigos e leigos?
A dicotomia clero/leigos é um trágico erro que percorre toda historia da cristandade. Embora seja verdadeiro o fato de que multidões tenham optado pelo caminho largo do dogmatismo e defenda essa postura, esta dicotomia carece de sustento bíblico.A palavra "leigo" deriva da palavra grega laós, que significa "povo". Laós inclui todos os cristãos.O vocábulo aparece três vezes em 1 Ped. 2:9-10 onde Pedro se refere ao "povo (laós) de Deus". O termo laós no NT nunca se refere apenas a uma parte da assembléia. Apenas a partir do Século III passou a assumir outro significado.O termo "clero" tem suas raízes na palavra grega kléros que significa "porção ou herança". A palavra é empregada em 1 Ped. 5:3 onde Pedro instrui aos anciãos que não apossem da herança (kléros)de Deus.


É surpreendente que a palavra nunca é utilizada referindo-se aos líderes da igreja. Como ocorre com laós, kléros refere-se também ao povo de Deus, porque este é Sua herança.De acordo com o NT, portanto, todos os Cristãos são simultaneamente "clérigos" (kléros) e"leigos" (laós). Somos a herança do Senhor e o povo de Deus. Em outras palavras, o NT não dispõe de clérigos; torna clérigo todo crente!Em suma, não há um único indício do esquema clero/leigo e ministro/leigo na história, ensino e vocabulário do NT. Este esquema constitui uma falsa dicotomia. É um artefato religioso que derivado daruptura pós-bíblica entre o secular e o espiritual.Na dicotomia secular/espiritual, a fé, a oração e o ministério são considerados como propriedade exclusiva de um mundo interno e sacrossanto.

Um mundo que está completamente separado do tecido da vida. Mas tal separação é completamente alheia ao caráter distintivo do NT que afirma que todas as coisas glorificam a Deus, incluindo as coisas de nosso viver diário ( 1 Cor. 10:31).(5) Os sete anjos das sete igrejas do livro do Apocalipse não validam a presença de um único pastor em uma igreja local?Os primeiros três capítulos do Apocalipse constituem uma base frágil sobre a qual se possa construir a doutrina do "pastor único". Em primeiro lugar, a referência aos anjos destas igrejas é crítica.João não oferece chave alguma no que diz respeito a que igrejas se refere. Os eruditos não estão seguros do que simbolizam. (Alguns crêem que a passagem literalmente se refere a anjos.

Outros acham que se refere a mensageiros humanos).Em segundo lugar, em nenhuma parte do NT há nada que se assemelhe à idéia do "pastor único",nem há texto algum que vincule pastores com anjos.Em terceiro lugar, a idéia de que os sete anjos são os "pastores" das sete igrejas entra diametralmente em conflito com outros textos do NT. Por exemplo, Atos 20:17 e 20-28 revelam que na igreja de Éfeso havia muitos apascentando a igreja de Deus, e não apenas um. O mesmo ocorria em todas as igrejas do primeiro século. Cada igreja tinha vários anciãos (veja Repensando os Odres).Por conseguinte, sustentar a doutrina do "pastor único" a partir de uma obscura passagem doApocalipse é recorrer a uma exegese torpe e descuidada. Repito, não há apoio para o moderno sistema do pastor nem no Apocalipse nem em qualquer outro documento do NT.

Objeções do Antigo Testamento

(1) Em Êxodo 18, Moisés estabelece uma hierarquia de governantes sob sua autoridade para ajudar guiar o povo de Deus. Não constitui isto um modelo bíblico para a liderança hierárquica?Se lermos cuidadosamente o relato, descobrimos que foi Jetro, o sogro pagão de Moisés, quem concebeu esta idéia (Êxodo 18:14-27).

Não há evidencia Bíblica sugerindo respaldo divino a isso. Na realidade, o próprio Jetro admitiu que não estava seguro se Deus apoiaria sua idéia (Êxodo 18:23).Posteriormente, nas viagens de Israel, Deus dirigiu Moisés para que tomasse um rumo diferente com respeito ao problema da supervisão. O Senhor mandou que comissionasse anciãos para que lhe ajudassem a levar o peso da responsabilidade (Números 11:16).

Esta estratégia era orgânica e funcional, marcadamente diferente da noção de Jetro de uma hierarquia composta de muitos estratos de dirigentes.(2) Não é verdade que Moisés, Josué, Davi, Salomão, etc, revelam a perfeita vontade de Deus de ter um único líder sobre Seu povo?De maneira alguma.

Moisés e qualquer outro líder do AT, não foram nem ao menos sombra do Senhor Jesus Cristo. Não eram do tipo pastor único dos tempos modernos inventados durante a Reforma.Para ser mais específico, o rol do episcopado monárquico remonta ao Catolicismo nascente e tem suas raízes nos ensinos de Inácio de Antioquia e Cipriano de Cartago. Mas não chegou a ser aceito amplamente até os séculos III e IV. Durante a Reforma, o rol de bispos e sacerdotes se transformaram no pastor Protestante.

Deus sempre quis infundir una teocracia em Israel. Uma teocracia é um governo onde Deus é o único Rei.
Embora Deus tenha atendido ao desejo carnal do povo de ter um rei terreno, isso nunca foi Sua suprema vontade (1 Sam. 8:5-9).Não obstante, o Senhor seguiu agindo a favor de Seu povo sob o reinado humano. A presença do reinado humano resultou em terríveis conseqüências. Da mesma maneira, em nossos dias, Deus opera por meio de sistemas imperfeitos, mas estes sempre limitam Sua operação.O desejo eterno do Senhor para com Israel era que vivesse e servisse sob Seu direto domínio(Êxodo 15:18; Núm. 23:21; Deut. 33:5; 1 Sam. 8:7); que fosse um reino de sacerdotes (Êxodo 19:6), eque em tempos de crise estivesse sujeito a homens mais sábios e de mais idade (anciãos) (Deut. 22:15-18;25:7-9).Mas o que Israel perdeu por sua desobediência, a igreja ganhou (1 Ped. 2:5,9; Ap. 1:6). A verdade é que, tragicamente, muitos cristãos têm optado por regressar ao sistema de governo religioso do antigo pacto - apesar de Deus tê-lo desmantelado há muito tempo.

A única maneira possível de realizar a idéia divina de liderança e de autoridade é através da presença do Senhor no interior dos Seus. Já que a habitação do Espírito não foi experimentada durante os dias do Antigo Testamento, Deus condescendeu com as limitações de Seu povo.É por esta razão que vemos Israel muitas vezes abraçando modelos hierárquicos de liderança. Mas quando chegamos à era do NT, aprendemos que o Cristo que vive no interior é a porção de todos os filhos de Deus. É precisamente esta porção que faz com que a igreja se eleve ao nível sobrenatural do"sacerdócio de todos os crentes". Neste nível, os estilos de liderança hierárquica, titular e oficial tornam-se obsoletos e contraproducentes.(3) No Salmo 105:15, o Senhor diz "Não toqueis nos meus ungidos e não maltratem os meus profetas"Isso não quer dizer que alguns cristãos (p. ex. os profetas) possuem uma autoridade indiscutível?Sob o Antigo Pacto, Deus ungiu especialmente aos profetas para que fossem os portadores de Seus oráculos.

Falar contra eles era falar contra o Senhor. Mas no Novo Pacto, o Espírito é derramado sobre todo o povo de Deus. Todos os que recebem a Cristo (o Ungido) estão ungidos pelo Espírito Santo (1 Jn.2:27) - e todos podem profetizar (Atos 2:17-18; 1 Cor. 14:31).Desta maneira, a oração de Moisés de que todo o povo de Deus receberia o Espírito e profetizaria foi cumprido desde Pentecostes (Núm. 11:29; Atos 2:16-18). Lamentavelmente, líderes clericais e auto-proclamados "profetas" têm abusado e usado indevidamente o Salmo 105:15 para controlar o povo de Deus e desviar as críticas.Mas esta é a verdade: Já que todos os cristãos foram ungidos pelo Espírito, todos podem profetizar(Atos 2:17-18; 1 Cor. 14.31). Sob o Novo Pacto, "Não toqueis nos meus ungidos" equivale a "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus" (Efésios 5:21), porque a unção do Espírito veio sobre todos os que crêem no Messias.

Por conseguinte, "não tocar no ungido de Deus" se aplica hoje a cada cristão! Negar isto é negar que todos os cristãos tem a unção (1 João 2:20,27).
O Problema de Uma Má Tradução Considerando os pontos anteriormente mencionados, alguns poderão perguntar a razão da Versão Autorizada Inglesa (KJV) obscurecer tantos textos relacionados com o ministério e a supervisão.

Ou seja,porque a KJV repetidamente inserta termos hierárquicos/institucionais (como "oficio") que não estão presentes nos documentos originais?A resposta deriva do fato de que foi a igreja anglicana do século XVII que publicou a KJV. Esta igreja vinculou rigidamente a Igreja com o Estado e fundiu burocracia com cristianismo.Esta é a história. O Rei James VI da Escócia havia ordenado a tradução que leva seu nome (KingJames Version = KJV). Procedeu assim em seu papel de cabeça da Igreja Anglicana - a Igreja Estado da Inglaterra. Ordenou a cinqüenta e quatro eruditos que realizassem a tradução e que durante todo o projeto não se apartassem da "terminologia tradicional". (The Christian Baptist 1, Nashville: The Gospel Advocate Co., 1955, pp. 319-324).

Por esta razão, a KJV naturalmente reflete proposições hierárquicas/institucionais do Anglicanismo. Palavras tais como ekklesia, epískopos e diákonos não foram traduzidas fielmente do grego.

Pelo contrário, foram traduzidas empregando o ranço eclesiástico daqueles dias: Ekklesia = igreja.Epískopos = bispo. Diákonos = ministro. Praxis = ofício. Proístemi = governo. Apesar da KJV original de 1611 passar por várias revisões desde 1769, estes erros nunca foram corrigidos.Graças a Deus, algumas traduções modernas têm procurado corrigir este problema retirando muitos dos termos eclesiásticos encontrados na KJV, e têm traduzido fielmente as palavras gregas de acordo com seus significados originais:

Ekklesia = assembléia, Epískopos = guardião ou vigilante. Diákonos =servidor. Praxis = função.


Proístemi = cuidado.Desafortunadamente, muitas traduções modernas ainda conservam o sabor oficial tão presente na KJV.


Fonte:Quem é a tua cobertura?Frank Viola